A crise da História nos princípios do século XX
Introdução
O trágico início do
século XX, em 1914, promoveu um momento histórico no qual o sentido da história
e o sentido do papel dos intelectuais aparecem como um decisivo problema, seja
no campo da poesia e da literatura, seja no domínio da filosofia e das recentes
ciências humanas. Por várias razões, esta foi uma época crítica para as
ciências em particular a História. E é concretamente da crise enfrentada pela
História no início do século XX que este trabalho visa debruçar, com isso serão
mencionadas as causas, as características, etc., é também imprescindível falar
deste tema sem incluir a Escola de Annales, onde será também definido e
caracterizado na sua totalidade.
A
crise da História nos princípios do século XX
Apesar do aparecimento de outras
ciências sociais, a História continuava a mãe e dona do conhecimento humano.
Portanto, o retrato dos factos políticos e diplomáticos, faziam da História o
domínio favorito dos dirigentes. Este estatuto privilegiado da História sofreu
embates e críticas que se aprofundaram nas primeiras décadas do século XX.
Principais
causas da Crise
– Crítica feita por novas correntes
historiográficas á História tradicional (positivista): no século XIX, Marx e
Engels trouxeram uma concepção materialista da História, onde acentuam o papel
das massas e não dos indivíduos, a importância estrutural e da longa duração em
detrimento dos aspectos factuais e particulares, a preferência pelo estudo das
economias e sociedades em lugar dos habituais aspectos políticos, a
descontinuidade do processo histórico a subsistir a tradicional linearidade, o
papel da luta de classes na transformação da sociedade humana.
– Em 1903, François Simiand
economista e sociólogo denunciou os três ídolos da tribo dos historiadores: o
ídolo político que leva a dar aos factos políticos, as guerras; o ídolo
individual ou seja, o hábito de ordenar as pesquisas em torno de um indivíduo e
não os fenómenos sociais e o ídolo cronológico, o hábito de se perderem no
estudo das origens do passado.
– O surgimento do estruturalismo que
afirma que o facto histórico nada vale fora do contexto em que está integrado.
Assim, alterou o conceito do Homem e com ele, o da própria História.
– A evolução científica da época, sobretudo
das ciências ditas naturais, fez alterar pouco a pouco o conceito de Ciência e
a própria atitude dos cientistas frente a ciência. A rápida evolução, os
conhecimentos científicos que passaram a se renovar constantemente. O saber
deixa de ser um saber feito, acabado para se encontrar continuamente em mudança
como os homens.
– A emergência de outras ciências
sociais e humanas na segunda metade do século XIX, onde a História perde o
exclusivo do conhecimento do Humano, pela individualização e a institucionalização
como ciências de uma série de novos campos de análise e compreensão dos
fenómenos sociais e humanos. Entre as ciências surgidas pode-se mencionar a
sociologia, Geografia Humana, psicologia, Antropologia Social e Cultural e a
Etnografia.
A crescente importância destas
ciências que repartem entre si o mesmo objecto de estudo antes integral e
exclusivamente atribuído á História, veio colocar aos historiadores três novos
problemas:
Ø – O da definição e delimitação do conteúdo específico da História;
Ø
– O da reformulação da sua função
objectiva nas sociedades modernas;
Ø – E ainda o da metodologia.
O impacto das novas condições
históricas resultantes da primeira e segunda Guerra Mundial, contribuíram para
a reformulação da ciência histórica, visto que os princípios da História
tradicional eram incapazes de explicar as repercussões dos conflitos mundiais.
Esta crise significou para a
História a perca da autonomia do objecto de estudo (Homem) antes exclusivo à
História. Constituiu uma série de humilhações tendo contudo perdido a sua
credibilidade. Esta crise teve como essência a disputa do Homem como objecto de
estudo das ciências em referências.
O capitalismo passa pela sua
primeira grande crise de superprodução entre 1873-1895. Mas ao tentar reagir
contra a indisciplina da produção industrial, através da criação de monopólios,
entrou num processo de contradição interna que jamais se conseguiria libertar.
Embora as inovações apontadas
constituíssem já fundamento bastante para a inauguração duma nova corrente
historiográfica, a verdade é que é apenas a partir de 1929, com a fundação dos
Annales d’Histoire economique et Sociale e graças ao papel activo e prolongado
que esta revista desempenhou no domínio da historiografia, que verdadeiramente
inicia o movimento historiográfico conhecido por História nova.
Surgida em 1929, a revista Annales
não pode deixar de reflectir o estado de espírito da época, mascado pela
inquietação e pela expectativa que acompanharam a crise económica. Numa altura
em que as noções de conjuntura e estrutura já se encontravam suficientemente
difundidas para que os historiadores pudessem continuar a ignorá-los, a crise
acabou também, por responsabilizá-los, exigindo deles uma resposta a seguinte
questão: tratar-se-ia afinal duma crise conjuntural ou duma crise estrutural?
Realidades de média e longa duração,
as conjunturas e as estruturas tinham quebrado as fronteiras entre o passado, o
presente e o futuro. A história deixava de ser o conhecimento do passado pelo
passado, para ser uma História do passado em função duma melhor compreensão do
presente e da previsão do futuro.
Durante a década de 30, Annales
viveu particularmente da colaboração de Marc Bloch e Lucien Febvre, seus
fundadores. Coube a História dos Annales responder as exigências de um novo
saber mediante a transformação radical dos domínios e métodos de trabalho.