Guerra de desestabilização: 1976-1992
Pouco depois da independência, Moçambique mergulhou na guerra civil. A guerra civil moçambicana durou 16 anos, desde 1976 a 1992. Infelizmente, os anos de guerra foram acompanhados de calamidades naturais, como secas e inundações.
A
conjuntura nacional, regional e internacional
As cisões políticas
surgidas durante a luta armada de libertação nacional, os erros cometidos nos
primeiros anos de governação de Machel e o descontentamento dos colonos contribuíram
para o nascimento de uma força política armada, a MNR, sigla de Mozamque
National Resistance. O líder desta resistência que operav: essencialmente
nas matas era André Mathadi Matsangaíssa. Em 1979, depois da sua morte,
sucedeu-lhe Afonso Dihakama.
Depois da
independência moçambicana, o Governo em funções terá cometido algumas
arbitrariedades e abusos de poder, como, por exemplo:
— a promulgação da lei
das chicotadas;
— a instituição da
pena de morte;
— o descrédito das
autoridades locais, como os indunas, nhacuas e régulos;
— a proibição de ritos
de iniciação e o combate à magia e curandeirismo;
— a criação dos campos
de reeducação;
— uma forte
perseguição política, etc.
Esta guerra opôs a
Frelimo e a RENAMO, mas não pode ser vista apenas como uma guerra civil. Tem de
ser analisada à luz da política de desestabilização da África do Sul e da
Guerra Fria.
A África Austral nos
finais dos anos 70 e até meados da década de 90 viveu tempos muito difíceis e
instáveis. E o centro do problema estava na África do Sul. Esse país vivia no
terrível clima do apartheid, de profunda segregação racial. Mas já começava a
ser contestado pelos membros do ANC, liderados por Nelson Mandela. Para a
racista África do Sul, todos os que apoiassem o ANC eram considerados inimigos.
O ANC e outros
movimentos negros de resistência das nações vizinhas, como a ZANU, eram
apoiados pela Frelimo. Este apoio da Frelimo à resistência da África do
Sul e da Rodésia do
Sul (futuro Zimbabwe) promoveram o apoio dos governos racistas aos inimigos da
Frelimo, à RENAMO. A RENAMO conseguiu assim aliados importantes; num primeiro
momento foi apoiada pela Rodésia, mas assim que esta se tornou no independente
Zimbabwe, passou a só poder contar com a África do Sul.
E de que forma é que a
RENAMO apoiada pelos racistas da Rodésia e da África do Sul combatia a Frelimo?
Através da destruição, da minagem dos caminhos de mata e campos, etc.
As
consequências políticas, sociais e económicas
As consequências
políticas da guerra civil em Moçambique ainda hoje se fazem sentir. Na
actualidade, ainda que se vivam tempos de paz, há uma profunda cisão entre a
Frelimo e a RENAMO. Exemplo disso é o pedido de recontagem de votos que se
reclama no final do apuramento dos resultados de eleições. Apesar de em
Moçambique se estar a construir uma democracia, ainda nem todos acreditam nela.
Mesmo que exista algum
descrédito, é certo que a conquista do regime democrático foi uma das maiores e
mais expressivas consequências políticas da guerra civil em Moçambique. Para
além disso, obteve-se uma Constituição e o sistema multipartidário.
As consequências da
guerra civil a nível mate rial e social são mais penosas. Ainda hoje há
vestígios de destruição de infra-estruturas, de amputa dos vítimas das minas,
refugiados, fome, mortos e um profundo atraso económico. De facto, do ponto de
vista económico-social uma guerra é sempre nefasta.
A guerra civil em
Moçambique produziu consequências drásticas para a sociedade moçambicana:
— 1 milhão de mortos;
— 50 mil pessoas
amputadas;
— 92 881 soldados e
guerrilheiros desmobilizados;
— acima de 250 mil
crianças órfãs e não acompanhadas;
— 1/3 da população
malnutrida;
— mais de 150 mil
aldeias destruídas;
— cerca de 4,5 milhões
de deslocados internos;
— 1, 5 milhão de
deslocados externos;
— 7 biliões de dólares
americanos de prejuízos da economia nacional;
— metade da rede
rodoviária destruída e inviabilizada;
— mais de 50% das
redes sanitárias destruídas;
— 1800 escolas destruídas,
etc.
Conclusão
A guerra civil
moçambicana durou cerca de 16 anos, por Isso também é chamada de “guerra dos 16
anos’ Contudo, esta guerra também pode ser apelidada de “guerra da
desestabilização” porque desarmonizou e fragilizou por completo a sociedade e a
economia moçambicanas.
Durante o conflito, cerca de um milhão de pessoas morreram em combates e por conta de crises de fome, cinco milhões de civis foram deslocados e muitos sofreram amputações por minas terrestres, um legado da guerra que continua a assolar o país. O conflito terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz e as primeiras eleições multipartidárias do país foram realizadas em 1994. No entanto, passados mais de vinte anos de paz formal, Moçambique presenciou em 2013 o ressurgimento do conflito armado nas regiões central e norte do país, pondo em questão a aparente estabilidade democrática e o processo de reconciliação. Apesar das inúmeras negociações, um novo acordo de paz ainda não foi concluído.
Bibliografia
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