Ficha de Leitura - O Setimo Juramento
| INFORMAÇÕES
  DO ALUNO | |
| Nome da
  Escola | Escola Secundária da Liberdade | 
| Nome do Aluno | Eduarda Zefanias | 
| Turma: | A2 | 
| Sala: | 17 | 
| Nome do
  Professor: | Magavel | 
| Turno | Curso Nocturno | 
| INFORMAÇÕES DA OBRA | |
| Autora | |
| Título da Obra | O Sétimo Juramento | 
| Editora | |
| Data de lançamento | 2000 | 
| Nº Páginas |  268 | 
| INFORMAÇÕES DA AUTORA | |
| Biografia da
  autora | Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, Moçambique, em 1955. Estudou
  Linguística em Maputo, mas não concluiu o curso. Actualmente vive e trabalha
  na Zambézia. Ficcionista, publicou vários contos na imprensa (Domingo, na
  «Página Literária», e na revista Tempo). Publicou o seu primeiro romance,
  Balada de Amor ao Vento, depois da independência (1990), que é também o
  primeiro romance de uma mulher moçambicana. "Ventos do Apocalipse",
  concluído em 1991, saiu em Maputo em 1995 como edição da autora e foi
  publicado pela Caminho em 1999. O "Sétimo Juramento" e
  "Niketche" foram publicados em Portugal em 2000 e 2002,
  respectivamente. "Balada de Amor ao Vento" é o seu quinto romance.
  Afirma: "Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher
  moçambicana a escrever um romance, mas eu afirmo: sou contadora de estórias e
  não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e
  pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de
  arte." | 
| INFORMAÇÕES DA OBRA | |
| Descrição  | O sétimo juramento,
  obra que aqui estuda-se, é uma narrativa que remete-nos a um contexto do
  Moçambique pós-colonial, mas, sobretudo, pósguerra que durou 16 anos, entre
  Renamo e Frelimo. Na altura, a população moçambicana era extremamente pobre,
  não obstante a existência de uma pequena burguesia sustentada pelo
  apoderamento dos recursos do povo, pelo saque dos bens deixados pelo
  colonialismo português e pelo abuso do poder. Na sua grande maioria era
  composta por combatentes da luta de libertação nacional; um contexto em que o
  catolicismo herdado do colono ainda era fortemente dominante e a economia
  nacional era totalmente débil. Sobre o espaço onde decorrem as cenas narradas
  destaca-se que corresponde, hoje, à cidade de Maputo, onde vivia o casal
  protagonista, portanto a extremidade da civilização europeia em Moçambique, e
  Mambone, um distrito que pertencia à província de Inhambane, e que atualmente
  pertence à província de Sofala, conhecido pela famade ser a terra dos
  feiticeiros mais temidos, e que representa a extremidade da resistência à
  cultura europeia. | 
| Resumo da Obra | |
|  | O romance O sétimo juramento transcorre no final
  da guerra civil, em um clima de desencantamento com a independência: ―À
  ilusão de um amanhã melhor há muito murchou, por isso o Msaho3 morreu em
  Zavala. [...] As palavras poder, revolução, soam como maldição, nos ouvidos
  ensurdecidos pela violência das explosões em nome da democracia‖ (CHIZIANE,
  2000, p. 11). O personagem principal da narrativaé o diretor de uma fábrica
  chamado David da Costa Almeida e Silva, no entanto, seu primeiro nome é de
  origem africana: Magalule Machaza Cossa, um homem maduro e experiente. O
  diretor possui mais de quarenta anos e ocupa uma posição de destaque e poder
  na sociedade moçambicana, representada no romance. O narrador em terceira
  pessoa, onisciente, ao narrar a história vai, pouco a pouco, fazer emergir na
  narrativa as mulheres com quem David se relaciona evidenciando, dessa
  maneira, a tradição da poligamia de uma forma muito velada. As mulheres
  sempre são portadoras de forças atuantes nas narrativas de Chiziane,
  noromance em evidência, elas estão, em sua maioria, ligadas ao diretor. A
  personagem Vera, a primeira esposa de David, filha de umaprostituta que não
  conheceu o pai, ascendeu socialmente por intermédio do marido: ―Sou filha de
  ninguém e neste momento não tenho ninguém. Sou filha de um pai cujo nome não
  figura nas pedras da vida. Sou filha de uma prostituta reformada e jamais
  conheci o meu pai. De onde venho eu? Nem eu sei‖ (CHIZIANE, 2000, p. 202).
  Sua segunda esposa, Mimi, é explorada sexualmente pela dona de um prostíbulo,
  tia Lúcia. Mimi por ser jovem e virgem é oferecida ao diretor por um bom
  preço. A terceira mulher, a secretária Cláudia, embora apresente certa
  independência financeira, pois é a única que tem uma profissão, é, do mesmo
  modo, dependente de David, engravidando dele. A filha Suzy é usada por ele em
  suas feitiçarias para atingir seus intentos, em um ritual incestuoso. Também
  sua mãe, a avó Inês, protagoniza a cena na qual revela o envolvimento da
  figura paterna nos rituais de magia negra. A única que não está sob sua mercê
  é a feiticeira Moya, a guardiã nguni dos espíritos na natureza. Feiticeira
  que ajuda Vera, ao proteger seu filho Clemente doutrinando o jovem na
  aprendizagem da magia. Fato esse que terá grande influencia no final da
  narrativa. No universo ficcional de Chiziane, várias temáticas dicotômicas
  são recorrentes: oralidade – escrita; tradição – modernidade; rural – urbano;
  interdito – permitido; sobrenatural – natural. No romance em questão,
  presencia-se a (re)visitação das crenças autóctones, o inconsciente coletivo
  banhado por um imaginário ancestral de medos, forças e poderes adquiridos em
  rituais secretos da tradição, assim comoa poligamia: ―Tenho muito dinheiro.
  Farei dela segunda esposa. Serei um polígamo, sou polígamo a partir de agora.
  [...] Somos bantus e a poligamia é nossa cultura‖ (CHIZIANE, 2000, p. 122).
  Também a prática do lobolo4 ―Na tradição bantu mulher é herança, é
  propriedade porque é lobolada‖ (CHIZIANE, 2000, p. 37). No entanto, o
  narrador evidencia também os aspectos positivos dessa prática ―Todas as mulheres
  gostam de lobolo, mesmo as mais feministas do extremo. Porque dignifica. Dá
  estatuto. Prestigia. [...] é que não é só o lobolo que condiciona a prisão da
  mulher, mas todo o sistema social‖ (CHIZIANE, 2000, p. 90). Uma das profundas
  diferenças apresentadas entre homens e mulheres nesta sociedade pode ser
  compreendida por essa afirmativa: ―as mulheres devem ser especializadas em
  fidelidade e os homens em traição‖ (CHIZIANE, 2000, p. 246). Ao homem é
  permitido tudo ―[...] David traiu a mulher, os colegas, os operários e a
  própria filha‖ (CHIZIANE, 2000, p. 246), para a mulher apenas resta a total e
  cega submissão. A sociedade moçambicana ainda é muito marcada pelo
  patriarcalismo. As figuras femininas, nesta diegese, não possuem o mesmo
  protagonismo representado em outro romance da autora Niketche: uma história
  de poligamia (2002). Em O sétimo juramento, são abordados em um segundo plano
  os temas relevantes ao universo feminino como o incesto e o aborto: ―Que
  autoridade tem o mundo para condenar a mulher por querer evitar uma dor que
  só ela vive e sente? (CHIZIANE, 2000, p. 248), assim como temáticas
  relevantes - a poligamia e o lobolo, aspectos que demarcam o estatuto
  desprestigiado que as mulheres ocupam na sociedade moçambicana. A partir
  disso, é mister refletir sobre a memória como constituinte da personalidade
  das personagens. A memória e sua relação com a escrita de Chiziane. Ao nos
  depararmos com as questões de memória na escrita de Paulina Chiziane, nos é
  claro que: se não pode haver identidade sem memória e por outro lado, não
  pode haver memória sem identidade, ao invocar as memórias das personagens,
  pouco a pouco, o narrador vai constituindo a identidade narrativa dessas
  personagens. Desse modo, suscita o questionamento sobre oemprego desse recurso
  na narrativa: a memória revela a experiência de vida de três gerações: a mãe
  de David, a avó Inês, o próprio David e sua esposa, Vera e de seu filho
  Clemente. Portanto, três gerações que libertas do colonialismo português,
  situadas agora em um Moçambique5 quase liberto da guerra civil, carregam em
  suas memórias as consequências desse contato com o colonizador, uma amálgama
  da cultura ocidental com a cultura africana, representadas em suas
  rememorações por intermédio da ―contação‖de histórias, permeadas de mitos e
  crenças, da sabedoria popular dos provérbios, enfim de uma cultura
  simbiótica. Segundo Jacques Le Goff (2003, p. 419), em História e memória, a
  memória como propriedade de conservar certas informações ―remete-nos em
  primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem
  pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como
  passadas‖. As identidades das personagens são reveladas gradativamente, por
  intermédio da evocação das lembranças e fornece um mergulho na própria
  formação do homem, discutindo crenças e também a composição de memórias
  individuais que constituem a coletividade. Sob o aspecto da memória, o
  antropólogo francês Joel Candau (2011, p. 22), em seu livro Memória e
  identidade, de 2008, propõe a taxonomia de diferentes modos da memória, a
  saber, protomemória ou memória de baixo nível, a memória propriamente dita ou
  de alto nível e a metamemória. A primeira é composta pelo saber e pela
  experiência mais profundos e compartilhados pelos membros de uma sociedade.
  Inserem-se na categoria de memória procedural (repetitiva ou hábito), memória
  socialmente compartilhada e fruto das primeiras socializações. A protomemória
  é imperceptível, ocorre sem a tomada de consciência. A segunda, a memória
  propriamente dita ou de alto nível é a memória das lembranças a qual
  incorpora experiências ou vivências, saberes, crenças, sentimentos e
  sensações, podendo contar com extensões artificiais ou suportes de memória.
  E, finalmente, a terceira, a metamemória, é a representação que cada
  indivíduo faz de sua própria memória (CANDAU, 2011, p. 23) quanto àquilo que
  fala sobre ela, em uma dinâmica de ligação entre o indivíduo e seu passado,
  como uma memória reivindicada. Essas taxonomias são válidas para as memórias
  individuais, sendo que, tanto a ―protomemória‖ como a memória de alto nível
  dependem da faculdade da memória e a ―metamemória‖ é uma representação
  relativa a essa faculdade. O termo ―metamemória‖ será, pois, também utilizado
  para narradores de romances ficcionais que refletem sobre as próprias
  reminiscências. Para Maurice
  Halbwachs (2006, p. 79), nossa memória não se apóia na história aprendida,
  mas na história vivida. Por história, devemos entender não uma sucessão
  cronológica de eventos e datas, mas tudo o que faz com que um período se
  distinga dos outros, do qual os livros e as narrativas em geral nos
  apresentam apenas um quadro muito esquemático e incompleto. Embora esses
  teóricos analisem a memória sob perspectivas diferenciadas – a história, a
  antropologia e a sociologia, o homem é o centro de todas as análises, apenas
  diferenciando-se o ponto de vista pelo qual é perscrutado, o que vem a
  colaborar para o modo como se processa as representações dos personagens
  ficcionais. Assim, e pensando nos aspectos de magia presentes na narrativa
  aqui analisada, pensaremos, agora, na relação memória e magia presente na
  obra. | 
Breves
conclusões.
A
partir de tudo o que foi exposto até aqui, poderíamos sintetizar o romance pelo
provérbio quem com fogo fere com fogo será ferido! Para finalizar, David
declara: ― Fiz o juramento do batismo, juramento da bandeira, matrimônio, jurei
servir a revolução e lutar pela independência, jurei servir a nação do dia da
minha graduação, jurei competência e zelo na tomada de posse como diretor da empresa
(CHIZIANE, 2000, p. 152). Conhecem-se os seis juramentos perpetrados por David
ao longo de sua vida, mas qual será o sétimo juramento? Esta resposta está no
romance e a nós cabe, apenas, deixar ―no ar‖ a curiosidade, instigando à
leitura.
A
perplexidade de David vai-se tornando nossa, à medida que mergulhamos no mundo
fantástico que Paulina Chiziane nos oferece. Um mundo de feitiços e tabus, de
magia negra e fantasia, de sonhos e de pesadelos, de luz e de trevas. Um mundo
de contrastes e contradições, em que as forças do bem e do mal travam uma luta
contínua e titânica. Um mundo de destruição e corrupção, mas também um mundo a
que os valores da tradição e a sabedoria de séculos emprestam uma inegável
beleza. Um mundo inquietante, assustador, misterioso, em que a atracção pelo
abismo é incontrolável e a realidade do dia-a-dia, tal como supomos conhecê-lo,
é permanentemente questionada. Será que David esteve mesmo a sonhar?
Bibliografia
CHIZIANE,
Paulina. O sétimo juramento. Lisboa: Caminho, 2000.
AGUESSY,
Honorat. Visões e percepções tradicionais. In: ______. Introdução à cultura
africana. Lisboa: Edições 70, 1977.
CHIZIANE,
Paulina. Niketche: uma história de poligamia. Lisboa: Caminho, 2002.
