HINO À MINHA TERRA

 O sangue dos nomes

 é o sangue dos homens

 Suga-o também se és capaz

 tu que não os amas. 

Amanhece

sobre as cidades do futuro.

E uma saudade cresce no nome das coisas

e digo Metengobalame e Macomia

e é Metengobalame a cálida palavra

que os negros inventaram

e não outra coisa Macomia.

E grito Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!

E torno a gritar Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!

E outros nomes da minha terra

afluem doces e altivos na memória filial

e na exacta pronúncia desnudo-lhes a beleza.

Chulamáti! Manhoca! Chinhambanine!

Morrumbala, Namaponda e Namarroi

e o vento a agitar sensualmente as folhas dos canhoeiros

eu grito Angoche, Marrupa, Michafutene e Zóbuè

e apanho as sementes do cutlho e a raiz da txumbula

e mergulho as mãos na terra fresca de Zitundo.

Oh, as belas terras do meu áfrico País

e os belos animais astutos

ágeis e fortes dos matos do meu País

e os belos rios e os belos lagos e os belos peixes

e as belas aves dos céus do meu País

e todos os nomes que eu amo belos na língua ronga

macua, suaíli, changana,

xítsua e bitonga

dos negros de Camunguine, Zavala, Meponda, Chissibuca

Zongoene, Ribáuè e Mossuril.

– Quissimajulo! Quissimajulo! – Gritamos

nossas bocas autenticadas no hausto da terra.

– Aruângua! – Responde a voz dos ventos na cúpula das micaias.

E o luar de cabelos de marfim nas noites de Murrupula

e nas verdes campinas das terras de Sofala a nostalgia sinto

das cidades inconstruídas de Quissico

dos chindjingguiritanas no chilro tropical de Mapulanguene

das árvores de Namacurra, Muxilipo, Massinga

das inexistentes ruas largas de Pindangonga

e das casas de Chinhanguanine, Mugazine e Bala-Bala

nunca vistas nem jamais sonhadas ainda.

Oh! O côncavo seio azul-marinho da baía de Pemba

e as correntes dos rios Nhacuaze, Incomáti, Matola, Púnguè

e o potente espasmo das águas do Limpopo.

Ah! E um cacho das vinhas de espuma do Zambeze coalha ao sol

e os bagos amadurecem fartos um por um

amuletos bantos no esplendor da mais bela vindima.

E o balir pungente do chango e da impala

o meio olhar negro do xipene

o trote nervoso do egocero assustado

a fuga desvairada do inhacoso bravo no Funhalouro

o espírito de Mahazul nos poentes da Munhuana

o voar das sécuas na Gorongoza

o rugir do leão na Zambézia

o salto do leopardo em Manjacaze

a xidana-kata nas redes dos pescadores da Inhaca

a maresia no remanso idílico de Bilene Macia

o veneno da mamba no capim das terras do régulo Santaca

a música da timbila e do xipendana

o ácido sabor da nhantsuma doce

o sumo da mampsincha madura

o amarelo quente da mavúngua

o gosto da cuácua na boca

e o feitiço misterioso de Nengué-ua-Suna.

Meus nomes puros dos tempos

de livres troncos de chanfuta umbila e mucarala

livres estradas de água

livres pomos tumefactos de sémen

livres xingombelas de mulheres e crianças

e xigubos de homens completamente livres!

Grito Nhanzilo, Eráti, Macequece

e o eco das micaias responde: Amaramba, Murrupula,

e nos nomes virgens eu renovo o seu mosto em Muanacamba

e sem medo um negro queima as cinzas e as penas de corvos de agoiro

não corvos sim manguavavas

no esconjuro milenário do nosso invencível Xicuembo!

E o som da xipalapala exprime

os caninos amarelos das quizumbas ainda

mordendo agudas glandes intumescidas de África

antes da circuncisão ébria dos tambores incandescentes

da nossa maior Lua Nova.

(CRAVEIRINHA, José. Xigubo. Lisboa: Edições 70, 1980, p. 21–23) 

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