O Papel das Associações: o Grémio Africano, a Liga Africana e a Associação Africana de Moçambique
Foi permitido a uma pequena minoria de indivíduos instruídos, regra geral mulatos e assimilados, alguma actividade de carácter político, associativa e sindical. Foi assim que, na década 30, começou a surgir um surto de críticas contra aspectos do colonialismo português.
Neste período começaram também a aparecer vários movimentos
associativos e alguns jornais de contestação, apesar de vigorar a Lei da imprensa
de 1926, que impunha cautela e diminuta liberdade de expressão.
Em 1920, foi legalizado o Grémio Africano de Lourenço
Marques, que era tido como a mais importante organização da oposição moderada.
Nessa altura mudou de nome para Associação Africana da Colónia de Moçambique.
Esta organização foi dirigida desde a sua criação pelos irmãos
Albasini e era composta por mulatos e negros assimilados. Entre as personalidades
ligadas ao Grémio, para além dos irmãos Albasini, destacavam-se Estácio Dias,
Karel Pott, Francisco Benfica, etc. Esta organização surgiu como um instrumento
da valorização cultural e promoção intelectual da comunidade negra. Contudo, na
essência, era pela defesa dos mulatos e assimilados e contra a discriminação racial.
Devido à sua fraca capacidade económica, o Grémio dependia dos fundos do Estado
para o exercício das suas actividades. O jornal O Brado Africano constituía a
expressão mais activa e prática desta organização.
Assentando baterias...
Todo aquele que não luta
pelo seu Direito condena-se voluntaria mente a ser capacho dos outros. Parar é
morrer (...) Ante o Altar do Dever prostremo-nos pois e façamos por nos fazer
ouvir nas nossas queixas, nos nossos brados, nas nossas suplicas! Programa...
Para quê a explanação aqui de um programa, se todos sabem ao que vimos e o que
queremos?
Vamos seguir a mesmíssima
senda que encetamos ao fundar O Africano em 1908.
O Brado Africano foi o
grande momento dos irmãos Albasini. Texto do editorial de lançamento do jornal,
firmado por João Albasini.
João Albasini, Editorial de
‘O BradoAfricano”, 1918-12-24
Em 1930, Karel Pott é indicado como Director do jornal “O
Brado Africano” e, em 1932, foi eleito presidente do Grémio Africano, tendo imprimido
uma forte dinâmica ao movimento de contestação, que pouco a pouco foi assumindo
o seu carácter nacionalista.
Gradualmente, começam a surgir outros grémios por todo o
país:
·
Grémio Africano de Quelimane, fundado em 1925; só em 1931 viu
os seus estatutos aprovados;
·
Grémio Africano de Moçambique, surgiu de um grupo de pessoas
na ilha de Moçambique em 1924-25, mas só em 1930 foi oficialmente conhecido por
Grémio Luso-Africano da Ilha;
·
Grémio Africano de Manica e Sofala, surgiu em 1932 na Cidade da
Beira; nos seus estatutos defendia a protecção moral e material dos africanos e
dos seus membros.
As divergências internas do Grémio Africano foram
aproveitadas pelo regime para dividir os mulatos e os assimilados e fragilizar
a sua acção reivindicativa. Foi assim que se consumou a divisão entre ambos: os
negros saíram do Grémio e formaram o Instituto Negrófilo, cujos estatutos foram
¡ mediata mente a provados pelo regi me colonial em Março de 1932. As figuras
mais importantes do Instituto foram: Brown Dulela, João Manuel e Enoque
Libombo.
Em 1910 nascia a Liga Africana, que chegou a patrocinar a 2ª parte
do Congresso Pan-Africano, realizado em Lisboa em 1923. A Liga era um movimento
político e social que buscava a igualdade de direitos entre os moçambicanos e foi
influenciada pelo Pan-Africanismo de Nkrumah, Burghardt du Bois, etc.
O papel da
imprensa
A imprensa moçambicana serviu para denunciar abusos e veicular
a literatura de constatação. Em 1868, foi publicado em Moçambique o jornal
Progresso, o primeiro jornal não oficial. O tempo da sua publicação teve uma
curta história, mas deu início a um período bastante combativo. O Proletário surge
em 1912. Era um jornal criado por militantes residentes em Moçambique e estava
ligado ao Partido Socialista português. Esta publicação defendia as ideias de igualdade,
fraternidade e justiça, uma luta acesa no sentido de despertar a consciência
operária entre os colonos brancos. Seguiram-se outras publicações: o
Ferroviário, 1915-16; o Germinal, 1914-18; o Simples, 1911-13, entre outras.
Nos anos 1910-11, a Lei da Censura de João Belo, então
Ministro das Colónias, tornou a situação mais grave e previa acções duras de repressão
contra o movimento sindical e os seus jornais. Face à perante lei, os
jornalistas tentaram responder legalmente com a até o de nome dos jornais. Por exemplo,
o jornal O Emancipador ou em 1926, ano de publicação da famigerada Lei de
Censura, mas como Emancipador Amordaçado.
Alfredo de Aguiar foi o precursor do movimento de contestação
sistema colonial através da imprensa. Em Quelimane, onde secou, este angolano
dedicou-se à actividade jornalística, criando FIOS jornais.
No período de contestação ao regime colonial, destacaram-se as
figuras do mundo jornalístico: os irmãos Albasini, que lutavam Ia dignidade do
negro e pela terra natal Moçambique.
Rimo-nos com gosto todavia
por ver e constatar o pavor daqueles que se valem da cor para afastar os
concorrentes, por temerem, talvez, o desaire de se verem preteridos pela cor.
Em 1915, no jornal Africano,
Albasini reivindicava iguais vencimentos para os portugueses e para os
africanos usando os subterfúgios do humor para cobrir a Dita, mas também para a
tornar mais incisiva.
João Aibasini, Africano,
1915
O Brado Africano, o Africano, o Emancipador foram jornais que
desde a sua fundação sempre se colocaram do lado dos trabalhadores e eram
contra as imposições e humilhações coloniais, os baixos salários, a miséria e a
discriminação.
As manifestações
literárias e artísticas
Até ao fim da II Guerra Mundial eram pouquíssimos os
escritores que se consideravam pertencentes à literatura moçambicana. Não havia
um grupo coeso capaz de se identificar como uma instituição literária a
funcionar em pleno.
O Livro da Dor, uma coletânea de contos, escrita por João
Albasmi, foi publicado em 1925 e é considerado a obra inaugural da literatura
moçambicana. Nos anos 30, poemas dispersos de Rui de Noronha são publicados em
livro.
É tempo de pagar impostos
aos portugueses
Os portugueses que comem
ovos.
E as galinhas
Troca-me essa libra
inglesa...
Excerto de poema de Rui de
Noronha
Versos de Rui de Noronha que
falam dos impostos.
De 1945-48 a 1963, foi um período de intensiva formação da
literatura moçambicana. Pela primeira vez, uma consciência grupal instala-se no
seio dos escritores, influenciados em parte pela Negritude.
O período de 1964 até 1975 foi o período que coincidiu com o
início da luta de libertação nacional pela via das armas e a Independência
Nacional, e foi aqui que Moçambique assistiu ao nascimento de muitos escritores
moçambicanos, muitos inspirados na poesia que se chamava de combate e numa literatura
que reflectia a época conturbada da luta armada de libertação nacional. Luís
Bernardo Honwana publica em 1964 a obra Nós matámos o cão tinhoso. Também se
revelaram nesta época intelectuais e artistas tais como
Eugénio Lisboa, Rui Knopfli, Orlando Mendes, Heliodoro Baptista,
Leite Vasconcelos, Rui Nogar, Guilherme de Melo, etc. Após a independência,
durante algum tempo, de 1975 a 1982, assistiu-se sobretudo à divulgação de
textos que tinham “ficado nas gavetas” ou se encontravam dispersos. Surgem
também jovens escritores, com destaque para Ungulani Ba Ka Kossa, Mia Couto, Hélder
Muteia, Pedro Chissano, Juvenal Bucuane, Paulina Chiziane e outros.
As artes, a
canção, música e danças populares
As populações moçambicanas, negando a cultura do colonizador,
desenvolveram um conjunto de manifestações de carácter cultural e de
contestação face à dominação. Recorreu-se a estas formas de expressão, por um
lado, por serem incompreensíveis ao colonizador e, por outro lado, porque eram
imufles à censura colonial, pois os colonos ao desprezarem a língua e a cultura
do povo negro, não eram capazes de lhes atribuir o seu real valor.
As artes plásticas, a canção, a música e as danças na época
colonial, durante longos anos, servira como formas de expressão popular de
repulsa e de denúncia das humilhações raciais e a repressão colonial a que a
maioria do povo estava sujeita. A maior parte das manifestações artísticas
exprimia a angústia das populações face à forte repressão colonial.
Os contos que se narravam no ambiente familiar, as canções
dos camponeses e trabalhadores nos campos e portos, as obras de arte plástica (escultura
e máscaras), a pintura e a literatura oral e escrita, como meios de transmissão
de valores culturais da sociedade, constituíam as formas de crítica social e de
protesto ao colonialismo.
História de Moçambique, vol. II, p. 222
O protesto na arte dos moçambicanos.
Conclusão
O movimento associativo africano na Colónia de Moçambique
desempenhou um papel significante e activo na transformação de um
proto-nacionalismo numa consciência nacionalista interventiva.
O encontro de estudantes negros, de diferentes procedências, nas metrópoles
europeias, foi de fundamental importância para o surgimento de uma consciência
negra.
Se nas cidades surgiam movimentos de contestação, também no campo as
populações se revoltavam contra o sistema colonial. A contestação e resistência
acabaram por levar à formação das primeiras formações políticas moçambicanas, a
UDENAMO, UNAMI e MANU.
Bibliografia
® BICÁ, Firoza,
MAHILENE, Ilídio, Saber História 10,
1ª edição, Longman Moçambique, Lda., Maputo, 2010
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Pereira, Luís José Barbosa, Pré-Universitário 12, 1ª
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www.escolademoz.blogspot.com