A Historiografia Racionalista

 O Contexto Histórico do Surgimento do Iluminismo No prosseguimento dos progressos renascentistas, o século XVII regista notável evolução tanto a nível material, com o aparecimento dos correios e vias de comunicação organizadas, arquivos públicos, etc., bem como a nível técnico-científico, com a formulação da dúvida metódica, a exaltação do valor da experiência na construção da ciência, afirmação do método cientifico. 

Por outro lado, nos meados do século XVII começa o triunfo da burguesia e do capitalismo. A Inglaterra adiantou-se ao nível do Capitalismo Industrial, enquanto a França se destacava no âmbito da consciência revolucionária com os antagonismos entre a burguesia e a aristocracia. 

Os avanços iniciados no século XVII irão culminar com a implantação, no século XVIII, das ideias burguesas. Neste contexto emerge, então, um pensamento novo, oposto a ideologia medieval dominante e que pretende tomar como critério de verdade apenas a razão. É o Iluminismo, baseado na razão esclarecida. Para ter uma ideia do que é o Iluminismo ou o iluminado siga um pouco a seguinte actividade.

Actividade Imagine que um ancião, merecedor de grande respeito e confiança na sua comunidade dê uma informação a um seu amigo. Tanto o ancião que dá a informação, como o seu amigo, não sabe que a informação prestada não é verdadeira. Entretanto o seu amigo vem lhe contar o que ouviu e você diz a ele que não é verdade e explica – lhe porque é que não é verdade e qual é a verdade. Em quem é que acha que o seu amiga vai acreditar? Em si ou no ancião? 

Certamente que existe alguma possibilidade de o seu amigo aceitar a voz da razão e concordar consigo, mas em muitas ocasiões aceita-se a ideia do mais velho, só porque a informação foi dada por alguém mais respeitável e não porque seja realmente verdadeira. Pois é, caro aluno, o homem do iluminismo ou seja o Homem iluminado, como se designavam, recusa é contra esta dependência. Portanto os iluministas rejeitam a ideia de menoridade e procuram acreditar naquilo que lhe é dado a entender, no seu próprio raciocínio. 

Os homens iluminados já não acreditam em ideias preconcebidas, como por exemplo naquilo que está no livro de um autor famoso, ou num livro sagrado, ou ainda o que foi dito por alguém mais velho. Para eles as ideias são aceites apenas quando são convincentes, ou seja, racionalmente válidas, portanto quando a pessoa percebe e aceita que são verdadeiras. 

No lugar do direito divino crêem no direito natural e consideram a razão como o maior critério do valor para a religião, a filosofia, as ciências, o estado, o direito e a economia. 

Evolução Historiográfica nos Séculos XVII e XVIII Este percurso da História nos séculos XVII e XVIII reflectiu-se, como é óbvio no tipo de historiografia feita na época. Assim, no século XVII registaram-se avanços e retrocessos a nível da História. 

Uma das maiores conquistas da História, no século XVII foi a descoberta da Diplomática e da Paleografia, importantes disciplinas na investigação histórica. Em que consiste a Diplomática? 

E a Paleografia? Veja a seguir... Por Diplomática entende-se a ciência que estuda os actos escritos tendo em vista determinar a sua autenticidade, a sua integridade, e a data da sua emissão. A paleografia consiste no estudo de textos manuscritos antigos e medievais, incidindo especialmente na origem, forma e evolução da escrita, independentemente do tipo de suporte físico onde foi registrada, do material utilizado para proceder ao registo, do lugar onde foi utilizada e do povo que a utilizou e dos sinais gráficos que adoptou para exprimir a linguagem. 

O mesmo período foi igualmente marcado pelo surgimento de novos procedimentos metodológicos envolvendo a investigação dos factos, sua classificação por temática e épocas, crítica e organização em dicionários ou reportórios. Entretanto se houve progressos no domínio das metodologias, já a nível temático registou - se algum retrocesso com a História a privilegiar a estética em detrimento do conteúdo. 

A História passa a ser mais uma forma de arte – um ramo de literatura - do que propriamente uma ciência. Portanto, a história passa a se ocupar mais dos aspectos anedótico, efabulatório, supérfluo, agradável e fácil. Esta é a chamada concepção barroca da História. Já no século XVIII, sob influência do Iluminismo, desenvolve-se uma base de pensamento, questionando a tradição e substituindo, como critério de verdade, o saber livresco pela experiência sensorial. 

Valorizase o homem livre ou em libertação dos dogmas e da veneração dos antigos. Entretanto a evidência sensorial, como critério de verdade é mais aplicável às Ciências Naturais e menos às Ciências Humanas. 

Acompanhando a evolução das ciências naturais Descartes propôs para as ciências sociais, como critério de verdade, a evidência racional, que consistia num longo trabalho crítico, através de sucessivas análises e sínteses, acompanhadas de uma atitude de dúvida. 

Descartes introduzia, assim, o método de duvidar para-se chegar à verdade. Era o nascimento da dúvida metódica.

Surge assim o Método Crítico de Investigação, a Base da História Científica. As novas propostas historiográficas apresentadas pelos iluministas podem assim ser resumidas da seguinte maneira: 

 Alargamento do Objecto de Estudo da História - a par da tradicional história política e militar, os historiadores racionalistas propõem uma história global das sociedades, debruçando sobre todos os aspectos da vida (político, económico, social e cultural).

Leitura

“A História da Europa tornou-se um imenso processo de contratos de casamentos de genealogias e de títulos disputados (...) eu queria descobrir qual era a sociedade dos Homens, como se vivia no interior das famílias que artes eram cultivadas, em vez de repetir tantas desgraças tantos combates”. Voltaire, ensaio sobre os costumes e o Espírito das nações, 1756 in: História 12º Ano de Escolaridade P.A. Neves, A.L. Pinto e C. P. do Couto.

Aprofundamento do Campo Metodológico - através da crítica minuciosa para apurar a veracidade e exactidão das fontes, da afirmação da dúvida metódica além da primazia dos aspectos essenciais em detrimento do secundário e supérfluo.

A reformulação da função da História – que passa a servir a burguesia triunfante como classe dominante em vez de servir certos homens poderosos individualmente. Representantes da História Racionalista O progresso da História no século XVIII esteve particularmente ligado ao papel de notáveis pensadores como: 

 Charles de Secondat (Montesquieu) 1689 - 1755, - autor de "O Espírito das Leis", valioso contributo para o desenvolvimento da ciência jurídica. 

 François Arouet (Voltaire): 1694 - 1778 - Inaugurou uma história humana, ou total, que procurava abarcar todos os aspectos da evolução da sociedade (política, economia, finanças, religião, aspectos demográficos, etc.) 

 Antoine de Condorcet (1743 - 1794) - Defende uma história global e cosmopolita. Foi, com Robert Jaques Turgot, um dos precursores do Positivismo. 

 Jean Jacques Rousseau (? - 1778) – defende a valorização da sensibilidade e da personalidade livre e natural do homem, contribuindo assim para uma compreensão profunda da realidade histórica. 

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