O Papel das Associações e Movimentos Estudantis
Depois da II Guerra Mundial, o colonialismo em Moçambique tornou-se mais repressivo. Esta repressão sobre quem discordava do regime aliada ao desenvolvimento das comunicações via rádio viu nascer uma forma de nacionalismo moçambicano genuína, as associações e os movimentos estudantis. Os principais legados destas formas de oposição foram:
·
Encorajar oponentes ao regime de Moçambique;
·
Ver nascer nomes que projectaram a democracia de Moçambique.
A
Associação dos Naturais de Moçambique (ANM)
A Associação dos Naturais de
Moçambique surgiu no âmbito do aparecimento nos principais centros urbanos do
país de associações de carácter reivindicativo e de defesa dos direitos cívicos
dos assimilados e mulatos. Em 1935, nasceu a Associação dos Naturais de
Moçambique constituída por brancos nascidos em Moçambique e que, para as
autoridades portuguesas, eram considerados “braços de segunda Na década de 50
um pequeno grupo de brancos antifascistas assumiu a vanguarda no seio da
associação e abriu as portas para a adesão de outras raças, bem como para a
colaboração com outras associações, como foi o caso da NESAM.
O
Movimento do Jovens Democratas Moçambicanos (MJDM)
Pouco depois do término da II
Guerra Mundial, surgiu em Moçambique um movimento complementar ao MUD Juvenil
português, o Movimento dos Jovens Democratas de Moçambique (MJDM). Os
propósitos do MJDM eram:
·
Desenvolver uma intensa campanha de propaganda política clandestina,
através de panfletos contra o regime;
·
Combater as grandes injustiças sociais de que estavam a ser vítimas
os trabalhadores por parte dos patrões;
·
E despertar nos africanos a necessidade de unidade de todos na
sua luta contra as formas de repressão colonial.
Alguns dos seus dirigentes
foram: Sobral de Campos (antigo consultor jurídico da Confederação Geral de Trabalho
e de outros organismos operários portugueses, radicado em Moçambique), Sofia Pomba,
Raposo Beirão (advogado), João Mendes, Ricardo Rangel e Noémia de Sousa
(poetisa).
Vigiado pela polícia e
limitado pelas divisões raciais impostas ao movimento, o MJDM viria a ser
reprimido no período de 1948-1949, quando seus principais dirigentes foram
presos e condenados. Mas a semente da contestação havia sido lançada. Assim, em
princípios de 1949, formou-se em Lourenço Marques, com cerca de 20 membros, o
Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM), integrado no Centro
Associativo de Moçambique (CAM).
O
Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM)
O objectivo do núcleo era
fomentar a unidade e camaradagem entre os jovens africanos, através do
desenvolvimento da sua capa cidade intelectual, espiritual e física, para
melhor servir a sociedade.
Nos primeiros anos da sua
existência foi considerada pelas autoridades coloniais como uma organização
nacionalista embrionária.
Daí ter sido policiada e,
sob influência da direcção colaboracionista do Centro Associativo, passou a
restringir a sua actividade a acções socioculturais entre a pequena camada
estudantil negra constituída pelos filhos das famílias que integravam o Centro.
Na segunda metade da década
de 50, a contradição entre o colaboracionismo do Centro e a tendência
nacionalista da NESAM agudizou-se. A NESAM voltou a ser uma plataforma de
discussão e comunicação não só sobre o problema da educação discriminatória, mas
também do nacionalismo e independência.
Alguns dos seus dirigentes
foram: Eduardo Mondlane, Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Luís Bernardo
Honwana, Augusto Hunguana, Josina Muthemba, Pascoal Mocumbi, JorgeTembe, entre outros.
Devido às suas ideias, o
núcleo viria a ser banido em 1965.
O
papel da Casa dos Estudantes do Império e o Centro de Estudos Africanos (CEI e
CEA)
Em Lisboa existia a Casa dos
Estudantes do Império, uma associação legal, que tinha por objectivo integrar
os estudantes provenientes das colónias e incutir-lhes o espírito de
lusitanidade. A grande mais-valia desta casa não foi, por certo, o objectivo a
que ela se propunha, mas o facto de os estudantes de várias etnias africa nas
se poderem reunir livremente.
Mais tarde, o Centro de
Estudos Africanos foi formado pelos africanos saídos da Casa dos Estudantes do
Império. O centro promovia reuniões semanais e clandestinas, para a análise da
questão do colonialismo em África. Por esta associação passaram pessoas como:
Marcelino dos Santos, Noémia de Sousa, Mário de Andrade e também Amílcar Cabral
e Agostinho Neto.
As movimentações
nacionalistas dos estudantes africanos a operar fora de Moçambique conseguiram
criar condições para a realização da Conferência das Organizações Nacionalistas
das Colónias Portuguesas, em 1961, em Casablanca.
Conclusão
Findo trabalho, tendo feito a compilação de todas informações necessárias
para realização deste trabalho, pôde concluir-se que as associações dos
estudantes desempenharam um papel fundamental para o despertar do nacionalismo
em toda a parte de África. Algumas associações foram formadas
(maioritariamente) na diáspora, fora de Moçambique e fora de África.
O encontro de estudantes negros, de diferentes procedências, nas metrópoles
europeias, foi de fundamental importância para o surgimento de uma consciência
negra.
Se nas cidades surgiam movimentos de contestação, também no campo as
populações se revoltavam contra o sistema colonial. A contestação e resistência
acabaram por levar à formação das primeiras formações políticas moçambicanas, a
UDENAMO, UNAMI e MANU.