TEXTOS POÉTICOS (POESIA DE RUI DE NORONHA, NOÉMIA DE SOUSA, RUI NOGAR E AGOSTINHO NETO).
Apresentação
do texto
Texto A
Amar
Amar
é um prazer se nos amámos
Alguém
que pode amar-nos e nos ama,
Amar
é um prazer, se nos chama,
Alguém continuamente que chamámos.
Então
a vida inteira a rir levamos,
Que
o mesmo fogo ardente nos inflama
Os
ideais da vida, e bem, a fama,
Mãos dadas pelo mundo procuramos.
No
encapelado mar da existência
O
amor é compassiva indulgência
A culpa original de nossos pais.
Tudo
na vida é fruto do amor
Quem
o tirar e olhar em seu redor
Encontra
só tristeza – e nada mais
Rui de Noronha
Compreensão e interpretação
do texto
1. O poeta define “amor” como um prazer.
Que condições apresenta ele para a concretização desse prazer
2. Amar, de acordo com o poeta, traz benefícios para os que se amam.
Transcreva duas passagens
ilustrativas desses benefícios.
Texto B
POR EU AMAR-TE TANTO
Que
culpa tenho eu de amar-te assim?
Que
culpa terás tu de o não saberes?
Quem
adivinha o que se passa em mim?
Como adivinharei o que tu queres?
Oh;
corações secretos de mulheres!
Oh,
minhas ilusões, mágoas sem fim!
Por
que hei-de eu ter só mágoas não prazeres?
Será por tanto amar-te querubim?
Tudo
o que à luz da Natureza existe
Alegre
é num momento e noutro triste,
…
E eu sou tristeza sempre, sempre pranto…
O
mais humilde verme que rasteja
Tem
outro que o ama, afaga e beija.
…
E eu nada tenho por amar-te tanto!
Rui de Noronha
Compreensão e interpretação
1. A quem se dirige o sujeito poético?
2. Que sentimentos estão expressos nas perguntas formuladas no texto?
3. Exemplificando, apresente as funções de linguagem predominante no
texto.
4. O poema é um soneto.
a) Faça o esquema rimático do poema.
d) Indique as seguintes rimas do texto: rima rica; rima pobre.
Texto
PATSHISES
A
pena que me dá ver essa gente
Com
sacos sobre os ombros, carregadíssima!
Às
vezes é meio-dia, o sol tão quente,
E os fardos a pesar, Virgem Santíssima!...
À
porta dos monhés, humildemente,
Mal
a manhã desponta a vir suavíssima,
Vestindo
rotas sacas, tristemente
Lá vão ‘spreitando a carga pesadíssima…
Quantos,
velhinhos já, avós talvez,
Dez
vezes, vinte vezes, lés a lés
Num dia só percorrem a cidade!
Ó
negros! Que penoso é viver
A
vida inteira aos fardos de quem quer
E na velhice ao pão da caridade…
Rui de Noronha
Sonetos, 1943
Texto B
NEGRA
Gentes
estranhas com os seus olhos cheios de outros mundos
quiseram
cantar teus encantos
para
eles só de mistérios profundos,
de
delírios e feitiçarias…
teus
encantos profundos de África
mas não puderam.
Em
seus formais e rendilhados cantos,
ausentes
de emoção e sinceridade,
quedaste-te
longínqua, inatingível,
virgem
de contactos mais fundos.
E
te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual,
jarra
etrusca, exotismo tropical,
demência,
atracção, crueldade,
animalidade,
magia…
e não
sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias.
Em seus formais cantos
rendilhados
foste
tudo, negra…
menos
tu.
E ainda bem.
Ainda
bem que nos deixaram a nós,
Do
mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a
glória única e sentida de te cantar
com
emoção verdadeira e radical,
a
glória única e sentida de te cantar, toda amassada,
moldada,
vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE
Noémia de Sousa, in No Reino de Caliban III, M.
Ferreira
Texto
NA ZONA DO INIMIGO
As
instruções foram bem precisas
todos
nós as compreendemos
camaradas
“permanecer
no interior do país
Cumprindo tarefas que vos daremos
guardar
o santo e senha
que
de Dar-es-Salaam vos irá
revelar
a cada um
as
fronteiras da humilhação
e
depois a luta e a conquista
de novas zonas libertadas”
As
instruções foram bem precisas
todos
nós as compreendemos
camaradas
e aguardaremos ansiosamente
o mensageiro que já tardava
Rui
Nogar,
In No Reino de Caliban III
Compreensão e interpretação
1. identifique a temática do poema que
acabou de ler
2. Qual é a zona sugerida pelo texto em que o inimigo actua?
3. A que instruções se refere a primeira estrofe do texto?
Questões de linguagem
1. “As instruções foram bem precisas/ todos nós as compreendemos/camaradas”.
a) A quem se refere o pronome destacado na passagem acima?
b) Qual é a função sintáctica da expressão “camaradas” na frase em 1?
Género
lírico (ou Lírica)
O género lírico é a categoria de textos em que se nota, de maneira
exclusiva, ou pelo menos dominante, a expressão de um estado da alma pessoal,
da vida interior, das emoções de um “Eu” face a si mesmo e ao mundo.
Ao contrário do género narrativo, que tem por finalidade dar a conhecer,
sob forma de arte um conjunto de factos/ocorrências envolvendo determinadas
personagens, a poesia lírica é a manifestação de sentimentos íntimos do poeta
que, através dela, traduz as emoções interiores.
Porque no texto lírico predomina a revelação da vida interior, as
vivências afectivas do “Eu” do emissor, nele surgem com intensidade as formas
verbais e pronominais da 1a pessoa.
A poesia:
verso e estrofe
Quando ouvimos dizer um poema, sentimos imediatamente que estamos perante
um texto especial, pelo que e como o diz. É a linguagem que usa (normalmente
mais recheada de recursos estilísticos) e também a musicalidade das frases. Do
mesmo modo quando olhamos para um poema inscrito numa folha de papel, sabemos
que de um poema se trata, pois a mancha gráfica que ocupa é diferente da de
qualquer texto em prosa. A poesia é uma arte antiga.
Não podemos utilizar a
palavra poesia como sinónimo de poema. A poesia pode se encontrar-se
quer na prosa quer no verso.
Dizemos que há poesia quando num texto as palavras se encontram
carregadas de vários sentidos, numa forma mais ou menos rígida, como o soneto,
ou mais inovadoras, como algumas poesias modernas, permitindo ao texto várias
leituras e várias significações
Como é
constituído um poema
Um poema é constituído, fundamentalmente, por versos e
estrofes.
Verso – é
cada uma das linhas do poema
Conforme o número de
sílabas, os versos classificam-se do seguinte modo.
Classificação dos versos |
||
Sílabas |
Tipo
de verso |
|
5 |
Redondilha
menor |
Fos/te/
tu/do, /ne/gra |
6 |
Heróico
quebrado |
Re/ve/lar/
a ca/da/um |
7 |
Redondilha
maior |
To/dos
/nós /as /com/preen/de/mos |
10 |
Decassílabo |
Cum/prin/do
/ta/re/fas/ que/ vos/ da/re/mos |
12 |
Alexandrinos |
Se/
a/ mi/nha a/ma/da/ um/ lon/go o/lhar/ me/ de/sse |
Estrutura
métrica
Cada verso apresenta uma sequência de sons que podem ser contados. Essa
contagem é feita através de sílabas métricas. Ao contar as sílabas métricas
deve ter-se em conta o seguinte:
- Os sons que se juntam e são sensíveis ao ouvido.
- A contagem faz-se apenas até à última sílaba tónica de cada verso.
- O número de sílabas gramaticais nem sempre é igual ao número de sílabas
métricas: o número de sílabas gramaticais é geralmente maior.
Por vezes, há a fusão de sílabas gramaticais. Essa fusão chama-se sinalefa.
Exemplo: sílabas gramaticais
Mal/ a /ma/nhã/ dês/pon/ta/ a/ vir/ su/a/ví/ssi/ma (14 sílaba)
Sílabas métricas:
Mal a/ ma/nhã /dês/pon/ta a /vir /sua/ví/ssi/ma (10
sílabas métricas)
Estrofe ou
estância – é o conjunto de versos, soltos ou rimados,
reunidos em grupos, formando uma unidade gráfica de sentido completo.
As estrofes têm um nome de acordo com o número de verso que as forma
Monóstico – 1 verso
Dístico – 2 versos
Terceto – 3 versos
Quadra – 4 versos
Quintilha – 5 versos
Sextilha – 6 versos
Sétima – 7 versos
Oitava – 8 versos
Nona – 9 versos
Décima – 10 versos
Mais de 10 verso a estrofe chama-se irregular
Rima –
a rima é a igualdade ou semelhança de sons em lugares determinados nas últimas
vogais acentuadas (e fonemas que as seguem) de vários versos. A rima ganha um
nome, consoante o esquema de combinações.
A rima pode ser classificada de duas maneiras:
1. Segundo a posição das palavras
A rima classifica-se de forma diferente quando a palavra que a constituem
ocupam lugares diferentes no poema. E pode ser: emparelhada, cruzada,
interpolada e encadeada.
segundo a
classe gramatical das palavras. A rima classifica-se igualmente
através da análise das palavras que a constituem. Deste modo, a rima pode ter
duas classificações:
Rima pobre – quando a última palavra de cada verso pertence a mesma classe gramatical.
Os textos poéticos
quanto a forma e quanto ao conteúdo
Os textos poéticos classificam-se quanto a forma e quanto ao conteúdo:
Poesia quanto
a forma
Quanto a forma os textos poéticos classificam-se em textos poéticos versificados
e não versificados. A poesia lírica quanto a forma apresenta versos e estrofes.
Poesia quanto
ao conteúdo
Quanto ao conteúdo os textos
poéticos líricos classificam-se em: sonetos,
cancioneiros, poesia trovadoresca, poesia profana (cantigas de amigo, de
amor, de escárnio ou de mal dizer) e
poesia religiosa (cânticos); hino,
epopeia, prosa poética, prosa narrativa
Recursos estilísticos ou
figuras de estilo
É a forma de linguagem que tem por fim conceder graça, vivacidade,
concisão e energia a tudo o que se diz ou escreve. As figuras, empregadas na
prosa ou no verso, servem para dar beleza à frase, e, por isso, existem nas
obras de carácter literário. São várias as figuras de estilo, mas a sua análise
deve ter em conta a análise de texto.
Aqui são sugeridas
e exemplificadas umas. Para mais, consulte a Gramática de Língua Portuguesa
Comparação –
figura que consiste na relação de semelhança entre duas ideias ou coisas,
através de uma palavra ou expressão comparativa ou de verbos a ela equivalentes
(parecer, lembrar, assemelhar, sugerir…) a comparação pode ser feita por
semelhança ou por diferenciação.
exemplo: Eu desfaria o sol como desfaço /As
bolas de sabão das criancinhas
Metáfora –
espécie de comparação a qual falta a partícula comparativa. Muda-se a
significação por semelhança. Isto é uma comparação que não usa partícula
comparativa.
Exemplo: Amar é um prazer se nos amámos.
(amar é como um prazer se nos amamos)
Personificação
ou prosopopeia – figura de estilo que consiste na atribuição
de qualidades ou comportamentos humanos a seres que não são humanos. Exemplo: O
mais humilde verme que rasteja/Tem outro que o ama, afaga e beija.
Anáfora –
repetição de uma ou mais palavras em inícios de verso ou períodos sucessivos.
Exemplo: Oh; corações secretos de mulheres!
Oh, minhas
ilusões, mágoas sem fim!