Dia da Moeda
O metical (ISO 4217: MZN; sigla nacional: MT), oficialmente metical de Moçambique, é a moeda de Moçambique, que substituiu a moeda colonial, o Escudo de Moçambique, em 16 de Junho de 1980 (vigésimo aniversário do Massacre de Mueda).
O nome desta moeda tem origem numa antiga
“moeda”, usada no período pré-colonial, formada por ráquis de penas de avescheias de ouro em pó.
A criação do Metical representou o ponto mais
alto da remoção dos símbolos da dominação estrangeira em Moçambique, cinco anos
depois da criação do Banco de Moçambique, a 17 de Maio de 1975.Assim, o país
passou a dispor de moeda própria para as suas transacções.
Igualmente, o lançamento do Metical marcou
também a conquista da nossa soberania e independência, o materializar do sonho
dos jovens de 25 de Setembro, que movidos pelo sonho de um país livre, com o
sentimento do poeta de que o “sonho é uma constante da vida tão concreta e
definida como outra coisa qualquer, que o sonho é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num
perpétuo movimento”, partiram de armas em punho à busca da liberdade, sabendo
que os colonialistas, sendo fortes em tamanho, em armas e em leis, “não sabiam,
nem sonhavam que o sonho comanda a vida e que sempre que um Homem sonha o mundo
pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”.
Foi uma ocasião que ninguém que passou por ela
esquecerá, em que se destacou uma enorme capacidade organizativa e
participativa, extremamente sigilosa, gerida na altura a partir da direcção do
Partido Frelimo e do Governo, por forma a que fosse reduzida ao mínimo a chance
insucessos da operação.
Houve autênticas epopeias de sacrifícios
consentidos pelos jovens na época e velhos de hoje, muitos deles que já não
vivem. Hoje é interessante falar das várias fases ou frentes do processo que
nortearam a operação do Rovuma ao Maputo e como tudo foi desencadeado noutras
partes do País.
Na altura, quantas histórias não se ouviram. O
impacto em toda a população, a nível nacional, foi enorme. O pânico dos que
guardavam as suas poupanças nos colchões, os sacos e sacos de dinheiro para
trocar e como reagiram ao processo, os constrangimentos psicológicos, a sua
abordagem no processo de troca nos balcões da banca nacionalizada, tudo isso
todos sentiram na pele.
Em Tete, por exemplo, a troca e a recepção de
todos os Escudos e entrega de Meticais provindos das equipas constituídas, foi
feita a partir da Cidade de Tete. Esta operação foi do conhecimento antecipado
do Gerente da Filial de Tete. Havia apoios por forma a organizarem-se equipas a
serem integradas nas brigadas distritais chefiadas maioritariamente por
Directores Provinciais do BM. A coordenação da operação a nível nacional
envolvia o Governo, a Administração do Banco de Moçambique, o Serviço Nacional
de Segurança Popular e a Força Popular de Libertação de Moçambique.
No dia 15 de Junho 1980, um domingo, foram
convocados e concentrados em locais pré-definidos todos os elementos das
equipas para estudo dos documentos e impressos a serem utilizados no período da
troca de moeda. Uma tipografia escolhida para a produção dos impressos foi
selada com os operários lá dentro pela tropa durante dois dias, tendo os
empregados que dormir no chão, as suas famílias ansiosas pelo que se passava.
As restantes pessoas convocadas não tinham conhecimento prévio do que se
passava e a apreensão sentia-se naturalmente. Havia tropa por todos os lados
para proteger os valores em circulação e a logística. À meia-noite desse
domingo, dia 15 de Junho de 1980, todos ouviram na emissão nacional da Rádio
Moçambique o discurso do Presidente, Samora Machel à Nação, em que se revelou o
objecto das movimentações. Samora Machel formalmente decretou o fim de
circulação da moeda em Escudos e a introdução do Metical como moeda de
circulação nacional.
A designação da moeda - o Metical - deriva do
nome de uma moeda de troca utilizada nas transacções entre as populações em
partes de Moçambique algumas centenas de anos antes (aparentemente uma pitada
de ouro aluvial enfiada na parte oca de uma pena de ave).
Findo o anúncio presidencial (formalizado nas
Leis 2 e 3/80) foram então dadas as instruções a todas as equipas. Durante a
noite, fizeram-se os preparativos.
Às sete horas da segunda feira seguinte, dia 16
de Junho de 1980, arrancou o processo junto das populações, algumas das quais
haviam sido avisadas previamente pelas estruturas locais da Frelimo. Todas as
brigadas estavam já no terreno (nas cidades, distritos, localidades) já prontas
para a operação, que consistia em trocar, nos caixas e nos locais de troca,
apenas o equivalente, em Meticais, de cinco contos. Assim, cinco mil Escudos de
Moçambique colonial (Moçambique tinha as suas próprias notas e moedas,
diferentes de Portugal “continental”) dava cinco mil Meticais - que, por
tradição, o povo continuou a até hoje a chamar “cinco contos”. Para os
restantes Escudos que as pessoas tinham em sua posse, era passado um recibo de
entrega do valor, que seria creditado em conta após averiguação da sua
proveniência, o que em muitos casos era assunto considerado muitíssimo
problemático para quase toda a gente com algum dinheiro, dadas as
circunstâncias sociais de “vigilância revolucionária” e possibilidade de
acusações de sabotagem, traição, etc. O saldo na conta do titular era
automático.
Naturalmente que houve imensos problemas. Houve
pessoas, principalmente comerciantes mais abastados da diáspora asiática, que
mandavam os seus empregados e familiares trocarem os tais cinco contos, como
forma de contornar as restrições e não dar nas vistas. Houve brigadas que, à
boleia de carroças de bois com sacos de dinheiro, enfrentaram animais
selvagens, leões e elefantes principalmente. Houve o caso de dois cidadãos em
Angónia que morreram de ataque cardíaco porque não se recordavam aonde haviam
enterrado o seu dinheiro. Houve sacos de dinheiro novo esquecido nos comboios
em Mutarara e que acabaram sendo resgatados na Beira. Houve desvios, algumas
pessoas penalizadas pelo aproveitamento ilícito da situação.
No entanto, consideraram-se satisfatoriamente
concretizados os três grandes objectivos estratégicos: trocar a moeda sem
grande impacto no quotidiano das populações, evitar-se a introdução de moeda
falsa no processo de troca, e retirar-se a capacidade de manobra a indivíduos
ou grupos considerados opostos ao processo em curso e supostamente detentores
de vultuosas quantias em notas do tempo colonial, que estariam a utilizar em
esforços de desestabilização (o sucesso aqui foi relativo: pouco depois o
governo de Ian Smith entregava via Lancaster House o poder a Robert Mugabe e a
África do Sul já na era do “Grande Crocodilo” - Pieter Willem Botha - passou a
apoiar esses esforços, com as consequências que se conhecem).
Nessa altura houve muita gente boa que, a troco
de nada, e face às dificuldades que então havia, aderiram com evidente sentido
de patriotismo nesta que foi uma das operações pós independência mais
sigilosas, bem organizadas e provavelmente mais bem sucedidas.
Exactamente um ano depois, em 1981, o General
Alberto Chipande, em farda militar solene, liderou uma cerimónia simbólica do
“enterro” do escudo colonial, incinerando perante uma audiência e um fotógrafo
da “Tempo”, uns largos maços de notas de Escudos dentro de um caixão - que
hoje, ironicamente, renderiam dezenas de milhares de Euros nas feiras
numismáticas em Portugal.
A troca do escudo pelo Metical foi uma das
várias reformas que na altura foram efectuadas pelo Governo moçambicano para
alterar a ordem estabelecida pela administração colonial portuguesa, em vários
domínios. Algumas dessas reformas foram forçadas pela saída dos portugueses
sendo uma das mais importantes, no domínio da economia monetária, como acima
referimos, a criação do Banco de Moçambique, a 17 de Maio de 1975, ano da
independência, em substituição do Banco Nacional Ultramarino (BNU), instituído
pelo governo colonial e que definia nessa altura as regras da política
monetária do país.
Segundo dados históricos, a designação
“Metical” para a moeda nacional tem origem numa unidade de peso, que era usada
nas transacções comerciais em Moçambique no período pré-colonial. Um Metical
correspondia a 4,83 gramas de ouro em pó e era transportado no interior do cano
de uma pena de pato depois de se tapar as extremidades com cera de abelha.
Recordar que uma das grandes tarefas do Banco
de Moçambique, poucos anos depois do seu nascimento, foi mesmo a substituição
da moeda colonial pelo Metical, uma operação que foi levada a cabo com grande sucesso
e em curto espaço de tempo pelos moçambicanos.
A partir daí, o Metical começou a desempenhar
as suas funções, servindo como meio de troca para a aquisição de bens e
serviços que satisfaçam as necessidades e desejos das pessoas e servindo também
como reserva financeira, impulsionando o nosso sistema financeiro.
A partir de 1 de julho de 2006 entrou em circulação em Moçambique a
nova moeda do país, o Metical da Nova Família, que tem o valor da denominação
anterior dividida por mil, ou seja 1000 MZM = 1 MZN. A 31 de dezembro de 2007,
as notas da "antiga família" saíram de circulação e a sigla nacional
do metical passou a ser simplesmente MT.
De realçar que, na semana do Metical, o Banco
de Moçambique lançou uma nova série de notas, com a assinatura do novo
governador do Banco, Rogério Zandamela. As novas notas entraram em circulação
no Dia do Metical.
A circulação desta série será simultânea com as
séries de 2006 e 2011, que ostentam as assinaturas dos anteriores governadores,
nomeadamente, Adriano Maleiane e Ernesto Gove, não havendo, por isso, um
processo de troca nem data-limite de circulação das notas das séries 2006 e
2011.
No fim deste presente trabalho, conclui que o dia 16 de Junho tem dois
significados: primeiro, comemora-se o dia da Moeda, pois foi neste dia que o
presidente Samora Machel anunciou a criação da nossa Moeda. Também celebra-se o
dia da criança africana. Por isso, temos a missão de ensinar às crianças os
seus direitos e desafios ao nível do continente.