A ENTRADA DO SUL SAVE NA ECONOMIA-MUNDO
Em 1880 os estados no
sul do Save (sul de moçambique) eram politicamente independentes do
colonialismo portugues. Esta zona era caracterizada pela existência de dois
estados dominantes:
O estado de
gaza com a sua capital em mussorize, que mais tarde Ngungunhane viria
mudar para manjacaze em 1880 e dominava as atuais provincias de inhambane e
gaza integrando as chefaturas de cossa (kossa), Manhiça e Chirinja.
o estado de Maputo, a
sul da baia de Lourenço marques que dominava a zona entre os montes Libombos,
incluindo as chefaturas de Tembe, Moamba (Nuamba) e matola (Matsolo).
Antes da conquista
colonial, estes estados estavam ligados ao capital asiático e europeu através
de pequenos estabelecimentos em Inhambane e Lourenço Marques situados na costa
e no interior. Os contactos estabelecidos com os mercadores assentavam
essencialmente nas seguintes actividades:
Caça ao elefante, como
marfim podia participar no mercado internacional possibilitando o acesso aos
bens que localmente não eram produzidos (enxada de ferro, tecidos, armas de
fogo, missangas de vidro e álcool).
Produção de
oleaginosas, a venda do amendoim, gergelim e milho ganhou uma grande
importância quando o comércio de marfim começou a declinar na década de 1870.
Factores da Entrada do sul Save na Economia Mundo
A entrada do sul Save
na economia-mundo fez-se sentir de várias formas e vários ritmos.
As unidades políticas
a sul Save até 1880 eram politicamente independentes do sistema colonial
português. Antes da conquista e dominação colonial, os estados africanos estabeleciam
relações comerciais com o capital asiático e europeu através de pequenos
estabelecimentos portugueses em Inhambane e Lourenço Marques, situados ao longo
da costa e alguns no interior. Os estrados mais pujantes eram Gaza e Maputo.
Estes estados fizeram parte da economia-mundo ao estabeleceram contactos com
mercadores estrangeiros, essencialmente na caça
ao elefante e produção de oleaginosas.
Na segunda metade do
século XIX, a economia do sul de Moçambique começou a ser profundamente
influenciada pela expansão da economia
capitalista que se verificava nas colónias britânicas do Cabo e do Natal e
nas repúblicas bóers do Transvaal e Orange.
Com o fim da caça ao
elefante e da exportação do marfim em larga escala, novas actividades se
desenvolveram, tais como:
·
O aumento da
exportação de milho;
·
A exportação de peles
de animais destinadas aos mercados de Natal;
·
A exportação de
amendoim para Marselha;
·
Lourenço Marques
tornou-se um local de trânsito de muitos homens de negócios e dos recrutadores
de mão-de-obra para as minas da África de Sul;
·
O crescimento de
empreendimentos comerciais, incluindo a construção de lojas, armazéns e hotéis;
·
A abertura das minas
de diamantes em Kimberley, dando início à exportação de mão-de-obra.
O sul de Moçambique,
na altura do desenvolvimento capitalista das actuais províncias de Maputo, Gaza
e Inhambane, transformou-se na capital reserva de mão-de-obra, quer para o mercado interno em crescimento, quer para
a África do Sul.
As vias de comunicação
Toda a economia
colonial de Moçambique dependia de dois factores importantes: a utilização da
mão-de-obra africana (para uso interno ou para exportação) e a cobrança de
impostos camponeses. Mas para a colónia crescer economicamente e ser
completamente dominada pelo invasor era necessário implementar um bom sistema
de comunicações. A via ferra foi a opção escolhida, por excelência. Contudo,
também se registou um interesse substancia em desenvolver os portos e algumas
estradas térreas.
A ideia da construção
do caminho de ferro Lourenço Marques ao Transvaal foi objecto de discursai pela
primeira vez 1970, no Transvaal. O governo Transvaal tinha o desejo de se
libertar do domínio e influência britânicos e Lourenço Marques garantia-lhes a
libertação por via marítima. Para Portugal, a construção do caminho-de-ferro
era importante porque serviria de corredor de acesso ao interior, facto
relevante na implementação do princípio da ocupação efectiva.
Outra linha de
comunicação importante era a linha que ligava Beira à Rodésia. Os trabalhos da
sua construção iniciaram-se em 1892, com a construção da linha férrea Beira-Macequece
e em 1897, com a construção da linha férrea entre Beira e Umtail. Esta linha começou
a funcionar oficialmente somente em 1898.
O recrutamento da mão-de-obra
A emigração para o
Transval fez escassear a mão-de-obra no sul de Moçambique. Em 1870, para o
recrutamento, os governadores recorriam aos chefes tradicionais amigos para
fornecerem a mão-de-obra e que em 1889 trouxe varias consequências, das quais
se destacam: o despovoamento, a falta de uma estrutura de recrutamento, a
redução dos salários.
Em 1887, Mouzinho de
Albuquerque estabeleceu conversações com a RSA sobre o trabalho migratório. O
seu objectivo era rentabilizar os serviços através do repatriamento dos
salários, controlo do tráfico ferroviário e portuário. Foi a partir deste ano
(1887) que vários acordos foram assinados.
Causas do trabalho migratório
·
O desenvolvimento
económico colonial capitalista na África austral, em geral e do natal em
particular;
·
A crise ecológica
(seca de 1860-1861) com repercussões a nível da agricultura e da produção
alimentar. Como recurso iniciaram migrações com o objectivo de obter vários
produtos alimentares;
·
Declínio do comercio
de marfim no sul de Moçambique que provocou um excedente de mão-de-obra
desempregada;
·
Abertura de minas de
diamante de Kimberley em 1870, do ouro emLydenburg, do ouro em Transval-rand em
1886 que proporcionaram maiores incentivos salariais em relação aos pagos no
sul Save e nas plantações da África do sul;
·
Escassez de
mão-de-obra no natal devido a hostilidade do reino Zulu em empregar sua
mão-de-obra fora das fronteiras do seu reino, como solução recorreu-se a
contratação no sul de Moçambique;
·
A proibição de uso de
mão-de-obra nativa na África do Sul;
·
Construção de linhas
férreas para servir estes centros.
De salientar que o
fluxo de mão-de-obra moçambicana da África do sul foi oficializado em 1897,
primeiro de uma serie de acordos de convenção entre Portugal e África do sul
(1901,1909,1914 e 1964). A essência de todos acordos era a mesma: consistiam em
troca de uma taxa de mão-de-obra para as minas sul africanos, a mão-de-obra
tinha que ser integrante e todo o mineiro tinha de ser repatriado ao terminar o
seu período do serviço;
A Wenela, era
garantido o monopólio da mão-de-obra, só a partir de 1965. Para tal, Portugal
organizou 3 associações recortadoras privadas de mão-de-obra (atlas, algos e
camon) com o objectivo de aproveitar o fluxo clandestino.
Principais
intervenientes no recrutamento
·
Comerciantes ingleses de Durban e Natal,
asiáticos (baneanes);
·
Chefaturas locais: Maputo e Zulu;
A
Witwatersrand Native Labour Associaton (wenela), criada em 1897, e um
órgão da câmara das minas que obteve o monopólio de recrutamento da mão-de-obra
através de um acordo secreto com o governo português em 1901 e confirmado em
1909, data da primeira convenção entre Moçambique e Transval.
O monopólio da Wenela foi quebrado em 1976 quando três outras agenciais
recrutadores de capital português (atlas, algos e camon) iniciaram as
suas actividades. Mas estes recrutavam menor número em relação a Wenela.
Conclusão
A entrada do sul Save
na economia-mundo fez-se sentir de várias formas e vários ritmos. Em 1892
iniciaram-se os trabalhos de construção da linha férrea Beira – Macequece. Em
1897 a linha férrea entre Beira e Umtail entra em funcionamento. Em 1898 foi inaugurada
a linha férrea Beira – Rodésia do Sul. Averiguou-se durante a abordagem que o
Sul de Save influenciou bastante revolução dos caminhos-de-ferro que
utilizam-se até os dias de hoje.
O
desenvolvimento de Lourenço Marques antes de 1885 teve dois períodos
principais: Primeiro Período: 1840-1870
e o Segundo Período: 1870-1885.
Bibliografia
v NHAPULO, Telésfero de Jesus, História 12ª classe, Plural Editores, Maputo, 2013
v SOUTO, Améilia Neves
de, Guia Bibliográfico para o Estudante
de História de Moçambique, UEM/CEA, Maputo, 1996