Problemas, Tarefas e Métodos da Historiografia Africana

Problemas, Tarefas e métodos da Historiografia Africana

Os Problemas da historiografia Africana

Por razões que se prendem com o passado do continente colocam-se aos

historiadores africanos vários obstáculos no processo de reconstrução da

Historia de África. São dificuldades que se colocam em relação as fontes,

a datação dos acontecimentos e também a influência dos mitos ou de

estereótipos que perturbam o curso normal do trabalho do historiador.

Vejamos como cada um destes elementos constitui entrave ao trabalho do

historiador.

As Fontes

Nas sociedades africanas a maioria da população e a aristocracia, tal

como na Europa, era analfabeta, pelo que ler e escrever era do domínio

dos escribas e monges.

Por este facto, o continente africano é bastante carente de fontes escritas,

não se podendo, por isso, privilegiar este tipo de fontes para a

reconstrução da História da África. As fontes disponíveis são as fontes

antigas (egípcias, núbias, grego-latinas) árabes, europeu, africanas

recentes (escritas por africanos ou europeus) asiáticas ou americanas.

A escassez de fontes escritas podia ser minimizada pelo recurso à

arqueologia, mas existem, também, dificuldades para o uso da

arqueologia devido a exiguidade de meios financeiros para suportar os

custos das escavações e também a ausência de especialistas em diferentes

ciências auxiliares à actividade arqueológica.

Cronologia

Uma das grandezas básicas para a reconstituição da História é o tempo.

Entretanto para o caso de África são muito poucos os registos de datas

referentes ao período anterior à nossa época.

Os africanos sempre consideraram o tempo e tentaram contá-lo, daí que

certos reis, uma vez chegados ao poder depositavam anualmente num

vaso, pepitas de ouro até a morte, o que permite contabilizar os anos de

reinado.

Ora, este procedimento é insuficiente para uma correcta datação, pois

apenas permite saber quanto tempo o rei esteve no poder ou quantas

dinastias governaram um certo império. Entretanto não permite saber

com precisão o momento em que os acontecimentos tiveram lugar.

Portanto, qualquer um que se lance na tarefa de reconstituir a história de

África terá como obstáculo a deficiente datação dos acontecimentos.

Os Mitos

Outro grande problema da história africana é o dos mitos, ou seja, as

diferentes ideias que influenciaram a evolução da historiografia africana.

Os diferentes povos que estiveram em África e as diferentes

transformações sócio-políticas económicas e culturais levaram ao

aparecimento de diferentes interpretações do passado africano, com

repercussões na historiografia africana.

Um dos mitos foi a ideia defendida por Hegel em 1830 e que se

popularizou na época, defendendo que além da parte norte, a África não

tem movimento histórico, é a-histórica. É uma corrente que acredita na

passividade histórica dos povos africanos e dos povos negros em

particular.

Esta forma de pensar influenciou sobremaneira a elaboração da história

africana nos séculos XIX e XX falseando as perspectivas em favor duma

concepção eurocêntrica da história, que se difundiu por todo o lado

mesmo nos países que nunca tinham sido colonizados.

Hoje essa visão tende a desaparecer, contudo prevalece ainda em muitos

historiadores tanto no ocidente como fora dele.

O período colonial e o pós-independência geraram, igualmente, novos

pontos de vista e naturalmente que isso dificulta o estudo da história deste

continente.

Portanto ao estudar a História da África o historiador deve estar sempre

atento ao perigo de manipulação de fontes resultante da influência dos

mitos.

Caixa do tutor 

A escassez de fontes escritas, nas quais as informações mantêm-se inalteráveis, a deficiência de cronologia e a influência de certos estereótipos, são os principais problemas que dificultam o trabalho de reconstrução da História de África.

As Tarefas da História Africana

Entre os principais desafios dos historiadores africanos coloca-se a

produção de uma história cada vez mais isenta e objectiva. Assim, uma

das principais tarefas da história africana é a desmistificação da história.

Os historiadores africanos desde meados do século XX começaram a

tentar construir uma história verírida do mundo, na qual a África e os

outros continentes fossem vistos na mesma dimensão e ocupassem o seu

verdadeiro lugar no plano internacional.

Para esta reversão o papel dos historiadores africanos é particularmente

importante por ter sido a história da África a mais negligenciada e

desfigurada pelo racismo nos finais do século XIX e princípio de XX.

O esforço tendente a descolonizar a história da África incluiu a

modificação dos juízos de valor, invertendo os papéis entre os

intervenientes da história da África. Os agentes coloniais que antes eram

vistos como heróis ao serviço da civilização em marcha, passaram a

cruéis exploradores, enquanto o africano passava a vítima inocente.

Os Métodos da Historiografia Africana

Tendo em conta as condições específicas do seu desenvolvimento, nos

últimos anos a história de África caminhou a busca de novos métodos

com vista a alcançar, no seu estudo, zonas não suficientemente

exploradas.

Neste sentido há a destacar os progressos da história analítica (história de

campo que não depende apenas dos arquivos) para a história colonial e

pré-colonial cuja documentação é rara. O facto de os arquivos coloniais

terem sido criados e mantidos por estrangeiros e, naturalmente,

incorporarem os preconceitos dos seus autores, torna ainda mais

importante a busca de métodos que libertem a história dos arquivos.

Portanto ao historiador africano impõe-se o recurso a outras fontes (que

não as escritas) como a informação oral, sob o risco de chegar a

resultados desastrosos.

Os historiadores de África fizeram um trabalho pioneiro neste âmbito ao

se debruçarem sobre o período pré-colonial e colonial.


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