A Historiografia Africana

 A Historiografia Africana

As Fases de Evolução da Historiografia Africana

A evolução histórica do continente africano, que afinal influenciou a

evolução historiográfica, não ocorreu de forma homogénea em todo o

continente. Com efeito registaram-se ao longo dos tempos grandes

disparidades na evolução do continente.

Existem diferenças entre o norte, que por razões geográficas tem

ligações seculares a Europa e Ásia e o sul do Saara, mais isolado

daqueles continentes. Também há entre a costa, ponto de chegada dos

europeus e o interior, bem como entre o oriente e o ocidente, etc. Todas

estas particularidades vão se fazer sentir no curso da historiografia

africana.

Os primeiros trabalhos sobre a história da África datam da época do

surgimento da escrita (IV milénio a.n.e). Nessa altura surgiram no Egipto

(e, de forma geral, em toda a África do norte), tal como em todo o

oriente, as mais antigas formas de literatura histórica – as cosmogonias e

as mitografias.

A expansão do islão e do comércio proporcionaram, tanto na antiguidade

como na época medieval, um contexto favorável para a difusão de ideias

incluindo ao nível da história. O Egipto foi uma referência nas obras dos

autores clássicos como Heródoto e outros

O resto do continente, que ainda desconhecia a escrita e tinha escassos

contactos com outras civilizações não produziu muito neste domínio. O

saber era, via de regra, conservado e transmitido por via da oralidade e da

experiência.

Durante este período o estudo da África tropical foi bastante limitado e as

informações eram raras e pouco credíveis. Apenas existiam as fontes

clássicas sobre o mar Vermelho e o oceano Indico produzidas por

mercadores, como Al-Masudi (? – 950), Al – Bakri (1029-1094), Al –

Idrisi (? – 1154), Ibn Batuta (1304-1369), Hassan Ibn Muhamad al

Wazza’n (leão o africano- 1494-1552), etc.

Embora pareça ter havido nesta época algum dinamismo no processo de

elaboração, não existia um estudo sistemático sobre as mudanças

ocorridas ao longo do tempo e as informações eram, em geral, duvidosas.

Um dos primeiros e mais importantes historiadores da África foi Ibn

Khaldun (1332-1406). Estudou a África e suas relações com o

Mediterrâneo e o Próximo oriente, introduziu na história de África o

modelo de ciclo e tentou chegar à verdade histórica através da crítica e da

comparação. Estudou igualmente o Mali com base na tradição oral da

época.

Quando o islão, e com ele a escrita, chegaram à África oriental, os negros

africanos começaram a conservar a sua história através de textos escritos.

Foi assim que surgiram os ta’rikh al-Sudan, ta’rikh al-Fattash, a crónica

de Kano, a crónica de Kilwa, etc.

Caixa do tutor 

A primeira etapa da evolução da historiografia africana situa-se entre o surgimento da escrita e o século XV. Ao longo desta fase a produção historiográfica esteve reduzida ao Egipto e norte de África, bem como a algumas regiões da costa oriental africana onde já existia algum conhecimento da escrita como resultado da presença árabe. No resto do continente, que ainda desconhecia a escrita e tinha escassos contactos com outras civilizações o saber era, via de regra, conservado e transmitido por via da oralidade e da experiência.

Entre os séculos XV e XVIII o mundo vive a época da chamada primeira

expansão europeia, que leva os europeus à África, Ásia e América. Neste

contexto iniciou o contacto dos europeus com a costa ocidental africana

e, consequentemente surgiram alguns escritos sobre a costa da Guiné e

outras regiões de África produzidos, especialmente por missionários

europeus envolvidos na referida expansão.

Entretanto, os materiais assim produzidos e que fornecem testemunhos

directos e datados, bem como compilações de relatos, são essencialmente

descrições sobre a situação da época e não propriamente história. Relatase essencialmente aspectos ligados a estadia, aos locais, ao comércio e

outros de interesse dos autores desses escritos.

A terceira fase de evolução da historiografia africana é a que vai desde
finais do século XVIII até princípios do século XX. A industrialização da
Europa contribuiu para mudar a atitude dos europeus em relação ao
continente africano. Nesta altura regista-se um certo interesse dos autores
europeus pelas questões africanas. Os livros europeus começam a
contemplar a África um número considerável de páginas.
Para este facto concorreram vários factores ligados a pretensão
expansionista da Europa, nomeadamente a expansão de Napoleão ao
Egipto (1798), a tomada de Argel pela França (1830) e a ocupação do
Egipto pela Inglaterra (1882).
Caro aluno, é importante reparar que a referência à África na
literatura europeia foi sempre feita sob um ponto de vista
eurocentrista. Tendo em vista legitimar a expansão europeia à
África.
Partindo do que chamavam herança greco-romana única, os europeus
julgavam os objectos, conhecimentos, poder e riqueza da sua sociedade
mais preponderantes do que os de outras sociedades.Consequentemente a
história europeia era vista como chave e referência de todo conhecimento.
Neste contexto a história dos outros, em especial a história africana, não
tinha nenhuma importância.
Hegel foi muito claro a este respeito ao afirmar que:
“A África não é um continente histórico ela não demonstra nem mudança
nem desenvolvimento”
Este ponto de vista vigorou no século XIX e tinha ainda alguns, poucos,
adeptos em pleno século XX.
A partir de princípios do século XX e sobretudo depois da primeira
guerra mundial, espalhou-se um pensamento que pretendia minimizar e
até negar a influência da presença europeia em África apresentando-a
como um acontecimento de ínfimo impacto na evolução histórica da
África. É o Afrocentrismo. Este pensamento constituiu também uma
tendência importante na evolução da historiografia africana.
A última fase da historiografia africana inicia nos meados do século XX
com a emergência de uma nova História da África, produto de
historiadores profissionais que fizeram dela o objecto do seu ensino e dos
seus escritos. Este período corresponde ao período da África
independente e que começa a evoluir em termos de escolarização com um
notável aumento da rede escolar e de graduados a todos os níveis. Um
pouco por toda a África há cada vez mais quadros africanos formados que
irão dar corpo a uma nova tendência historiográfica.
Neste período, intelectuais africanos começam a definir a sua própria
concepção em relação ao passado africano buscando nele as fontes de
uma identidade cultural negada pelo colonialismo. Tenta-se já uma
História livre de mitos e de preconceitos subjectivos. Procura-se dar a
produção histórica um novo impulso elevando-a ao nível da história de
qualquer outra parte do mundo.
O início do Estudo da Historia da África noutros continentes constitui,
igualmente, um factor importante para reestruturação da história
Africana.
As independências dos países africanos a partir da década de 1960
criaram um renovado interesse pela África e uma considerável
curiosidade popular.
A nova tendência historiográfica assume-se como intermédia entre o
eurocentrtismo e o afrocentrismo pois tenta fazer uma abordagem isenta
de preconceitos, debruçando objectivamente sobre a evolução do
continente antes, durante e após a dominação colonial do continente.
Alguns chamam a esta corrente Progressista e outros Africanista.

Caixa do Tutor 
A partir do século XIX, a história da África conheceu três correntes principais: O eurocentrismo, o afrocentrismo e ainda uma corrente intermédia – progressista – que tenta estabelecer um certo equilíbrio entre as duas primeiras claramente radicais em defesa dos objectivos que perseguem. 

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