O Facto e Tempo Histórico
O Facto Histórico
Na lição 12 deste você estudou a noção de documento histórico que foi
definido como "Tudo o que nos pode informar sobre o passado dos
homens ". Mas o documento histórico não nos fornece o conhecimento
em si. Ele revela-nos factos do passado com base nos quais o historiador
trabalhar para interpretar o passado - produzir o conhecimento do
passado.
Ora bem, o que é então um facto histórico?
O facto é algo ou um acontecimento que se verifica podendo ser descrito
de uma forma precisa, medido, avaliado. O facto pode ser uma acção
realizada pelo homem ou não. Portanto acções realizadas pelo Homem
como a assinatura do acordo de reversão da Barragem de Cahora Bassa
para Moçambique ou a elevação da Baía de Pemba à categoria de
Património Mundial da Humanidade, podem ser considerados factos
históricos. Mas também podem ser considerados factos históricos
acontecimentos que não sejam obra do Homem como por exemplo a
ocorrência de cheias no ano 2000, ou ocorrência de um sismo.
Portanto, em termos históricos, o facto histórico é todo o acontecimento que deixa
marcas no pensamento do homem, na sociedade, e na humanidade em geral.
Você sabia que nem todo o acontecimento é um facto histórico? Pois é, o
facto histórico distingue-se de outros acontecimentos pelo seu carácter
irreversível, espacial e temporal, para significar que os acontecimentos
históricos não se repetem tal como se deram e que se localizam no tempo
e no espaço.
O Tempo histórico
Como poderíamos definir este novo conceito que nos aparece?
Comecemos por ver algumas ideias a respeito desta noção:
De acordo com a Dicionário “ Editora "da língua portuguesa
"...é o meio indefinido e homogéneo no qual se desenvolvem os
acontecimentos sucessivos; parte da duração ocupada por
acontecimentos;(...)"
Marc Bloch, em Introdução à história debruçou-se sobre o tempo nos
seguintes termos:
“ (...) É certo ser difícil imaginar uma ciência seja ela qual for, que
possa abstrair do tempo. Contudo, para muitas delas que, por
convenção, o fragmentam em partes artificialmente homogéneas, o tempo
não é mais do que uma medida (...) o tempo da história é (...) o próprio
plasma em que banham os fenómenos, é como que o lugar da sua
inteligibilidade".
O que pensam os autores, não fica por aqui. Filipe Rocha deu também a
sua ideia e foi mais expressivo ao afirmar:
"Atrevo-me a declarar sem receio de contestação, que, se nada
sobrevivesse, não haveria tempo futuro e, se agora nada existisse, não
teríamos tempo presente". e observa: "os corpos só se podem mover no
tempo (...) "
Observando o conteúdo dos extractos pode perceber, caro aluno, que “ a
palavra tempo” designa um determinado espaço indefinido e homogéneo
no qual decorrem os fenómenos. Ele é parte intríseca dos fenómenos. É
nele que se enriquecem os fenómenos tornando-se inteligíveis.
A seguir você vai ver como é que é medido o tempo histórico.
A Medição do Tempo Histórico
Estrutura e Conjuntura
Um dos historiadores que mais reflectiu sobre o tempo histórico foi
Fernand Braudel. Para Braudel o tempo histórico não obedece a
sequência do calendário, mas sim a sequência, mudança ou permanência
dos fenómenos. Por essa razão, ele propunha uma dimensão tripla do
tempo histórico, nomeadamente o tempo curto, o tempo médio e o tempo
longo.
Curta duração refere-se aos acontecimentos ou eventos e, o seu estudo
não carece de análise e investigação profundas.
Tempo médio ou média duração - é o tempo das conjunturas ou seja das
pequenas ou curtas variações cíclicas.
Conjuntura - É o cruzamento em dado momento de todas as
componentes da vida. Por conjuntura entende-se, sobretudo, movimento:
altas e baixas de produção, oscilação dos preços, etc.
O tempo longo ou longa duração é referente às grandes mudanças ou
grandes permanências. É o tempo das estruturas.
Estrutura - Designa essencialmente as formas e actividades
relativamente estáveis, nas relações de proporções, nas dimensões
relativas, nas relações entre as forças produtivas. Permanecem constantes
durante um longo período ou evoluem de uma maneira imperceptível.
Por outras palavras são as estruturas que servem de marco para a
determinação dos períodos históricos por que passou a humanidade.
Outros conceitos importantes, na história, são os de Sincronia e
Diacronia. Preste atenção a eles.
Sincronia e Diacronia
O que caracteriza a História é, em primeiro lugar, a dinâmica da duração.
Neste sentido torna-se necessário ao historiador a referência ao tempo
histórico, que pode ser, segundo, F. Braudel, o tempo curto, o tempo da
conjuntura que abarca alguns anos, uma ou várias gerações, o tempo
longo das estruturas, das permanências.
Tendo como base o conceito de tempo de Braudel, o historiador pode
situar no tempo a explicação histórica seguindo duas posições
metodológicas:
1. Sincronia – que consiste em fazer cortes horizontais no tempo e
verificar numa mesma época a conjugação dos diversos fenómenos
sociais, económicos, políticos, mentais, etc., que dêem a
compreensão dessa época. Na sincronia as relações ou conexões entre
os acontecimentos de momentos diferentes não têm espaço. Analisase apenas o momento. É como se fizesse a fotografia do momento em
análise. Por exemplo se considerarmos o período da Luta armada de
Libertação Nacional temos um momento em que descrevemos os
acontecimentos ligados aquele fenómeno como as batalhas, as
condições de vida das zonas afectadas, ou o decréscimo da economia,
mas sem nunca relacionarmos esses factos com tudo quanto tenha
ocorrido noutros lugares ou épocas anteriores.
2. Diacronia – é a análise do processo de evolução dos fenómenos num
período mais ou menos longo, procurando captar as camadas mais
profundas do passado humano, numa perspectiva mais dinâmica.
Aqui analisa-se os fenómenos tendo em conta aqueles que os
antecederam e as suas implicações. Analisa-se o processo todo e, não
determinado momento isolado.
O historiador deve referir o seu estudo histórico a uma determinada
duração, sem o que cairia na acronia. Não pode, por outro lado, deixar-se
levar pela tentação de aplicar a certas épocas históricas aquilo que só se
verifica noutras, pois cairia na anacronia, que, segundo Le Febvre, é o
"pecado original dos historiadores”.