A História no século XX
A História no século XX
A Crise da História no Início do Século XX Na lição 8, você, estudou a evolução da História no final do século XIX. Pois bem antes de passar ao estudo de nova matéria resolva a seguinte actividade.
Porquê a Crise da História? Entre os factores que conduziram a História à crise podemos apontar os seguintes:
A crítica feita por novas correntes historiográficas à História
tradicional
Materialismo histórico trouxe uma nova concepção, materialista,
da História, destacando o papel das massas e a importância da
história estrutural e de longa duração.
François Simiand denunciou o que chamou "os três ídolos da
tribo dos historiadores" o ídolo político, o ídolo cronológico e o
ídolo individual. Por outras palavras criticou a história política,
cronológica e individual- portanto a história positivista
As novas correntes de pensamento, tais como:
Os estudos filosóficos - que vieram alargar o conhecimento
do homem de si mesmo;
O Estruturalismo - que veio alterar o conceito do Homem
e, portanto, da própria História.
A evolução científica da época - o desenvolvimento das ciências
fez alterar o conceito de ciência e a atitude dos cientistas face a
ciência.
A emergência das ciências humanas e sociais (sociologia,
Geografia Humana, Antropologia Social e Cultural, Etnologia) -
as novas ciências passaram a se ocupar de assuntos que antes
eram tratados em História, retirando a esta o exclusivo do
conhecimento humano. Como resultado da crescente importância
das ciências sociais a História entrou numa fase de indefinição
quanto ao conteúdo específico da História, aos seus métodos e à
sua função
Impacto das guerras mundiais - a história tradicional positivista
tornou-se incapaz de explicar as grandes transformações
provocadas pelas guerras mundiais daí o espaço para a afirmação
de novas ideias historiográficas.
As Manifestações da Crise da História
Ao ler os factores da crise fica patente que no início do século XX a
História ficou abalada a dois níveis:
A História perdeu o estatuto de ciência privilegiada de que a História
gozava como resultado do aparecimento de outras ciências sociais que
passaram a se debruçar sobre assunto que antes era do domínio exclusivo
da História.
A conjugação de diferentes factores levou a História a uma situação de
indefinição quanto ao seu conteúdo específico, a sua função e
métodos.
A Escola dos Annales, 1929 – 1946 e o Surgimento da
História Nova
Como é natural, a crise abalou a classe dos historiadores, que de imediato
se desdobraram em acções para recolocar a História ao nível das demais
ciências. A criação da revista Annales d´Histoire Economique et Sociale
em 1929, constituiu um momento crucial dentro desse processo. A partir
daquele ano quase todas as reflexões em torno da História passaram a ser
publicadas naquela revista que, assim, passou a ser uma verdadeira escola
historiográfica.
Os Annales tornaram-se, pois, o berço da História Nova, apresentando
como principais ideias:
A luta contra a historiografia positivista tradicional - renovação
do conceito de história, rompendo com a história política e
individualizada, factual e superficial e avançar rumo a uma
história de homens e populações totais, económica e social e que
tende a história comparada das civilizações.
Alargamento do território do historiador - a história dos annales
procura, em oposição a história positivista que privilegia os
assuntos e figuras da vida política, caminhar para uma história de
todos os homens, uma história do homem total, ou simplesmente,
uma história humana.
Alargamento do campo do documento - contrariamente a história
positivista que considera “documento histórico” apenas o
“documento escrito”, os annales entendem como documento
"tudo o que, sendo do homem, depende do homem, serve para o
homem, significa a presença, a actividade, os gostos e as
maneiras de ser do homem ". Portanto para os annales qualquer
tipo de escrito, os documentos figurados, produto das escavações
arqueológicas, documentos orais, etc., pode ser considerados
documentos históricos.
Revalorização do papel activo do historiador - a escola dos
annales iniciou a crítica à noção positivista de facto histórico bem
como à ideia de reduzir o trabalho do historiador à investigação
do facto histórico. Para esta escola historiográfica o facto
histórico não existe senão integrado num certo contexto histórico.
Cabe, pois, ao historiador, no meio da enorme gama de material,
escolher, por via de uma construção científica do documento. "O
facto histórico é uma criação do historiador"
A História – problema: Os annales esforçam-se por colocar fim à
passividade dos historiadores perante os factos e, embora sem os
exageros dos historicistas, defendem uma acção mais activa do
historiador na construção do conhecimento histórico. Nesta linha
de pensamento, os annales defenderam a chamada históriaproblema. Como diziam: "não só descrever, senão resolver, mas,
pelo menos, colocar problemas"
Entre 1946 a 1956 ocorre a “institucionalização da História Nova”,
graças ao contributo de historiadores com Robert Mandrou, Marc Ferro,
Charles Morazé, Fernand Braudel e outros, que apresentam como novas
propostas:
A procura de novos objectos para a história - pretendendo ser uma
história global e total, a história começa a debruçar-se sobre questões até
ai estudadas em outras ciências sociais como a Antropologia, Geografia,
Economia, Etnologia, Psicologia. Por outro lado o estudo das massas, no
lugar das figuras públicas, leva a que marginais, mulheres, camponeses,
operários, etc. Comecem a ocupar, na história o lugar antes reservado aos
reis, guerreiros e outras figuras públicas. É o surgimento de novos heróis.
Alargamento do âmbito cronológico da história - a evolução científica
em geral e, em especial, o surgimento das ciências auxiliares da História,
permitiram à História aprimorar seus métodos e desenvolver novas
técnicas e meios de investigação. Assim, a História aumenta o tipo e
número de fontes e, desse modo, alarga o seu tempo de estudo, ou seja,
abarca épocas muito mais recuadas no tempo.
Alargamento do âmbito geográfico - até a década de 1930 a História
ocupou-se quase exclusivamente dos povos e nações considerados
civilizados - os europeus. Os outros povos são apenas referidos na
medida em que estiveram em contacto com os "civilizados".
A proposta historiográfica nos anos 40/50 foi portanto a de se avançar
para uma História Universal e que não se limite a ser um desfile de povos
que "contribuíram para a civilização". Opunha-se ao Europocentrismo
que caracterizava a história e propunha uma nova tendência visando a
Universalidade.
Em 1958, uma nova etapa inicia sob a liderança de Fernand Braudel que
introduz a História Estrutural baseada na longa duração, tendo como
colaboradores Charles Morazé e G. Friedmann.
Características da História Estrutural
Novo conceito de tempo histórico - com Braudel a História
desenvolveu uma nova noção de tempo. Braudel defende que, em
História, o tempo social nem sempre coincide com o tempo
cronológico, pelo que o tempo histórico deve ser medido, não pela
sequência do calendário, mas pela sequência, permanência ou
mudança dos fenómenos.
Assim, Braudel propõe um modelo triplo de duração histórica,
nomeadamente:
o Tempo curto - o tempo dos acontecimentos ou dos eventos (a
explosão de uma bomba …). Os acontecimentos de curta duração
referem-se a ocorrências superficiais e por isso o seu estudo não
exige uma análise profunda.
o Tempo médio ou média duração - que se refere às pequenas
variações cíclicas. É o tempo das conjunturas. P.ex. uma crise ou
uma guerra.
o Tempo longo ou longa duração - corresponde às "grandes
repetições" ou "grandes permanências". São os acontecimentos que
tendem a permanecer e que quando se alteram fazem-no muito
lentamente, como p.ex um modo de produção. É o tempo das
estruturas.
A aproximação com as Ciências Sociais - o ideal de História
total e de longa duração perseguido pela história nova só pode
ser alcançada se a História se aproximar às demais ciências
sociais. Só esse contacto - a interdisciplinaridade - permitirá à
História debruçar-se sobre todos os aspectos ligados a vida da
humanidade. Assim a história tem ligações com Antropologia,
Sociologia, Economia, Geografia, Psicologia, Linguística,
Psicanálise, Matemáticas Sociais e Ciências da vida.
A Revolução nas metodologias - a ideia de uma história total,
global e, sobretudo, interdisciplinar só pode ser materializada
com recurso à especialização e ao trabalho em equipa. Portanto,
quando se fala de uma história interdisciplinar é imprescindível o
trabalho em equipa envolvendo especialistas das diversas áreas
de conhecimento.
As Tendências da História a Partir da Década de 1970
Nos anos 1970 a história nova começa a ser alvo de críticas, que podem
ser resumidas nos seguintes aspectos:
Falta de originalidade - os annales trouxeram à História novos objectos
e novos heróis, mas, nada mais fizeram senão retirar esses elementos a
outras ciências. Portanto essa mudança não se deveu a uma verdadeira
inovação na História.
Transformação da história numa forma de literatura - devido a forte
intervenção do historiador na construção do conhecimento histórico;
Perca de objectividade - a tentativa de o historiador explicar o passado
leva a que ele faça reflectir nas suas obras, mais os problemas do presente
em detrimento dos da época em estudo.
Fragmentação da história - a especialização da História Nova dá a
imagem de uma história "aos bocados"
Estes factores levaram a História a perder credibilidade e o seu valor.
O Novo Estruturalismo
Os críticos da História nova trazem a partir dos 1970, novas propostas
que podem ser designadas Novo Estruturalismo, que tem como principais
características:
Retorno à narrativa e à visão linear, cronológica da História;
Revalorização do facto histórico;
Retorno à história política.