O Desencadeamento Da Luta Armada De Libertação Nacional
Depois de muito se debater a forma de libertar Moçambique, o Congresso da FRELIMO optou pela luta armada. Em 1964 foi dado início à luta armada pela independência que começou pelo Norte do país.
Janet Mondlane diz que Eduardo, seu marido, no
início, tinha sido sempre favorável à resolução diplomática do conflito, mas os
portugueses não aceitavam conversar e foi necessário agudizar o protesto com
recurso à luta armada.
No Início era só
conversa, conversa, conversa, mas depois era preciso fazer outra coisa.
Janet Mondlane,
in A Guerra (documentário da RTP), 2009
O
início da luta armada
Em
VOSSO NOME, A FRELIMO proclama hoje, solenemente, a insurreição geral armada do
Povo Moçambicano, contra o colonialismo português, para conquista da
independência total e completa de Moçambique. O nosso combate não cessará senão
com a liquidação total e completa do colonialismo português.
Declaração do
desencadeamento da luta armada de libertação nacional feita pelo Dr. Eduardo
Mondlane, líder da FRELIMO, in Datas e documentos da História da FREL 1MO, p.
39
Durante os primeiros anos da luta
armada foram libertadas zonas no Norte de Moçambique, mas essas zonas estavam
limitadas às províncias de Niassa e de Cabo Delgado.
O II
Congresso da FRELIMO
O II Congresso da FRELIMO realizou-se
nas zonas libertadas da província de Niassa, tendo participado cerca de 170
delegados e observadores nacionais e internacionais. O Congresso modificou as estruturas
da organização, adaptando-se à nova fase da luta de libertação nacional, com a
actualização dos estatutos e do programa.
Relatório do
historiador Basil Davidson, que assistiu ao II Congresso da FRELIMO
A
FRELIMO fez um congresso do movimento, o primeiro desde a sua organização em
1962, no Norte de Moçambique, distrito do Niassa. Foi um risco. Mas tais eram
as pressões públicas que se tinham levantado, por motivo da crise interna, que
assim se fez.
O
Congresso principiou e continuou a salvo. Um avião de reconhecimento português
só localizou a assembleia nas florestas do Niassa na última tarde. Quando os
bombardeiros vieram no dia seguinte, tudo se dispersara.
Basil Davidson,
in Armando Pedro Muiuane, Datas e Documentos da História da FRELIMO, 3. edição,
p. 94 (adaptado)
Este congresso foi caracterizado
por divergências entre as duas alas que se formaram com o agudizar das
contradições no seio do movimento.
DIVERGÊNCIAS
DO SEIO DA FRELIMO |
|
ALA
DE MONDLANE (moderada)
defendia: |
ALA
DE NKAVADAME (radical)
defendia: |
– a modernização do movimento; |
– queria a separação com a actual
liderança da FRELIMO; |
– a forte mobilização do povo
para a guerra; |
– não concordavam com a liderança
de Mondlane; |
- a adopção da politica de
clemencia em relação aos soldados portugueses prisioneiros; |
– eram macondes e, por isso,
lutariam sem clemencia pelo seu território; |
– a participação da mulher na
politica; |
– o Congresso realizou-se sem a
participação do Nkavadame e seus correligionários. |
– a criação do exercito popular. |
|
Foi feita uma tentativa de avançar
sobre a Zambézia que teve de ser interrompida. Depois de 1968 surgiram também
zonas libertadas na província de Tete. No entanto, a guerra de libertação nunca
chegou a abranger mais do que 30% da área de Moçambique.
A ideologia da Frente de Libertação
de Moçambique, FRELIMO, foi-se afirmando no processo da luta, como uma luta
entre tendências e uma acumulação de mudanças nas mentalidades das pessoas,
assim como na organização social real.
As
Etapas da Luta
A primeira etapa da luta de libertação
nacional vai desde o início da luta armada a 25 de Setembro de 1964 até ao
Início da operação “Nó Górdio” (Julho de 1970), onde os guerrilheiros faziam as
emboscadas contra as fortificações do exército português junto aos quartéis e
acampamentos militares portugueses.
Na segunda etapa, os guerrilheiros
da FRELIMO, face à ofensiva-surpresa dos portugueses, contrariaram a ofensiva
lançando ataques no Norte de Tete, enquanto estes se concentravam nas províncias
nortenhas de Niassa e Cabo Delgado, obrigando o exército português a mudar de
estratégia, o que levou ao descalabro da “Operação Nó Górdio’ A FRELIMO sob a
liderança de Samora Machel venceu os portugueses nesta pesada ofensiva.
A Operação “Nó
Górdio” foi intensa em meios logísticos e durou cerca de 36 dias.
Derrota
final da ofensiva militar portuguesa denominada “Nó Górdio” lançada pelo
general fascista Kaulza de Arriaga contra as forças da FRELIMO.
Nesta
ofensiva, iniciada em Maio, Portugal, segundo os seus próprios comunicados, utilizo
u cerca de 35000 a 50000 soldados, além de caçadores especiais e comandos, equipados
com 15 000 toneladas de armamento. Um grande número de aviões a jacto, bombardeiros
e helicópteros, carros blindados e carros antiminas foram mobilizados. Os bombardeiros
realizavam-se com uma média de 16 a 20 aviões e helicópteros em cada operação.
Armando
Pedro Muiuane, Datas e Documentos da
História da FRELIMO, 3ª edição, p. 157
O
início do fim da luta pela independência
Eduardo Mondlane foi assassinado em
1969, por meio do rebentamento de uma bomba armazenada num livro, e Samora
Machel, passados alguns meses, assumiu a liderança da FRELIMO.
A luta armada passou a ser liderada
por Samora Machel, e a partir de 1970 a actividade militar da FRELIMO aumentou
significativa mente. Mas o fim da luta armada foi beneficiado pelo fim da comissão
de Kaulza de Arriaga e pelo 25 de Abril de 1974.
Os
heróis da luta armada de libertação nacional
Neste período destacaram-se figuras
heróicas moçambicanas, como Eduardo Mondlane, Samora Machel, Josina Machel,
Tomás Nduda, Filipe Samuel Magala, Mateus Sansão Muthemba, John Issa, José
Macamo, Paulo Samuel Nkankomba e Francisco Manyanga, entre muitos outros.
Conclusão
A opressão secular e o colonial fascismo português
acabaria por obrigar o Povo moçambicano a pegar em armas e lutar pela
independência.
A luta de libertação Nacional, foi dirigida
pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).
Esta organização, foi fundada em 1962 através
da fusão de 3 movimentos constituído no exilo, nomeadamente, a UDENAMO (União
Nacional Democrática de Moçambique), MANU (Mozambique African National Union) e
a UNAMI (União Nacional de Moçambique Independente).
Dirigida por Eduardo Chivambo Mondlane, a
FRELIMO iniciou com a luta de libertação Nacional a 25 de Setembro de 1964 no
posto administrativo de Chai na província de Cabo Delgado. O primeiro
presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, acabaria por morrer assassinado a 3 de
Fevereiro de 1969.
A ele sucedeu Samora Moisés Machel que
proclamou a independência do País a 25 de junho de 1975. Machel que acabou
morrendo num acidente aéreo em M'buzini, vizinha África do Sul acabou sendo
sucedido por Joaquim Alberto Chissano.
Bibliografia
·
Bowen, Merle. The State Against
the Peasantry: Rural Struggles in Colonial and Postcolonial Mozambique.
University Press Of Virginia; Charlottesville, Virginia, 2000
·
Calvert, Michael Brig. Counter-Insurgency in Mozambique do Journal
of the Royal United Services Institute, nº 118, Março 1973
·
GALHA, Henrique
Terreiro, Descolonização e Independência
em Moçambique-Factos e Argumentos, Ed. Edfera do Caos.