O desenvolvimento económico e sociopolítico de alguns países depois da 1ª Guerra Mundial (1918-1929)
O desenvolvimento económico e sociopolítico de alguns países depois da 1ª Guerra Mundial (1918-1929)
Não há como entender a quebra de
1929 sem compreender as contradições económicas, sociais e políticas do mundo
que emerge após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919).
A guerra foi consequência de uma
profunda transformação estrutural do capitalismo com o advento do imperialismo,
grau superior do desenvolvimento capitalista.
As transformações económicas
dessa nova fase histórica do capitalismo são assim definidas por Lênin: 1)
substituição da livre concorrência entre capitalistas pelos monopólios das
grandes corporações; 2) exportação de capitais dos países imperialistas em
escala global; 3) domínio absoluto do capital financeiro, a partir da fusão do
capital bancário com o industrial.
Lênin afirmava que, no limiar do
século 20, estava dada uma “situação monopolista de uns poucos países
riquíssimos, nos quais a acumulação do capital tinha alcançado proporções
gigantescas. Constitui-se um enorme ‘excedente de capital’ nos países
avançados”. Daí a necessidade de que esse capital excedente fosse exportado em
busca de uma colocação lucrativa. A possibilidade da exportação de capitais
vinha do fato de existirem países onde “os capitais são escassos, o preço da
terra e os salários relativamente baixos, e as matérias-primas baratas (...) já
incorporados na circulação do capitalismo mundial”.
Como consequência, era preciso
controlar o mercado mundial. Por isso as burguesias das principais potências
imperialistas empenharam-se febrilmente na preparação da Primeira Guerra
Mundial como forma de dividir e conquistar os mercados.
EUA até 1929
A Primeira Guerra fez com que os EUA emergissem como a principal economia
do planeta. As transacções de produtos industriais e agrícolas se ampliaram com
a abertura de créditos aos países aliados, seguidas pela concessão de
empréstimos à Inglaterra, França e, posteriormente, Alemanha. A produção
norte-americana deu um salto gigantesco em vários sectores, destacando-se a
indústria bélica, de material de campanha e alimentos. Os EUA se tornaram o
maior credor do mundo e no final dos anos 1920, o país respondia por mais de
42% da produção industrial global. Enquanto isso, França, Inglaterra e Alemanha
juntas detinham 28%.
O fim da guerra, porém, provocou uma pequena queda na economia
norte-americana. Mas logo o crescimento econômico é retomado, quando a França e
a Inglaterra (e posteriormente Alemanha) passam a saldar suas dívidas com os
EUA. Esse período é marcado por grande entusiasmo e ficou conhecido como “Big
Bussines”, ou grandes negócios, caracterizado por uma superprodução de mercadorias
e um mercado em expansão.
Em 1924, a economia mundial parecia retomar o crescimento, embora o
desemprego nos países da Europa continuasse muito alto, com 12% na Inglaterra e
18% na Alemanha. A superprodução foi característica de todo esse período,
favorecida pela política de liberalismo econômico, responsável pelo aumento dos
estoques, pela queda nos preços, pela redução dos lucros e pelo desemprego.
No entanto, já em 1921, na contramão dos prognósticos mais otimistas,
Trotsky avaliava que o breve crescimento da economia era algo efêmero e cíclico
que não deteria a crise estrutural do capitalismo:
Com o início da recuperação do setor produtivo dos países europeus, a
produção norte-americana começou a entrar em declínio. Essa situação
expressou-se principalmente no setor agrícola, com o aprofundamento da queda
dos preços dos produtos primários.
A crise dos agricultores norte-americanos seria o prenúncio de 1929. Na
medida em que as exportações diminuíam, os grandes proprietários não conseguiam
saldar as dívidas contraídas com os bancos. Além disso, as ações das empresas
tinham se sobrevalorizado imensamente num movimento de especulação financeira.
Foi questão de tempo para que a crise no campo causasse desabastecimento
nas cidades que já enfrentavam problemas com o desemprego.
Quando veio o colapso das bolsas, no dia 29 de outubro, dia conhecido como
“quinta-feira negra”, os bancos do país estavam sobrecarregados de dívidas não
saldadas, ações supervalorizadas de empresas que estavam em queda e, assim, recusaram
refinanciamentos ou novos empréstimos para a habitação, automóveis etc.
Calcula-se que cerca de mil hipotecas de casas foram executas por dia após
1929.
A quebradeira levou centenas de bancos à falência. Na época, o sistema
financeiro norte-americano era extremamente débil. Não havia bancos gigantes,
como na Europa. O sistema bancário do país consistia em pequenos bancos locais
e regionais. Mas o tombo da economia norte-americana só estava começando.
Disputa pela hegemonia
A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque não só iniciou uma profunda
depressão econômica internacional que perdurou por toda a década de 1930.
Também aprofundou os enormes conflitos interimperialistas, abrindo, assim, os
portões para uma nova guerra mundial.
Na Grande Depressão, os Estados imperialistas procuravam defender suas
burguesias como podiam. Não hesitaram em levantar barreiras tarifárias para
proteger seus mercados dos efeitos da crise, contrariando as doutrinas de livre
comércio em que afirmavam repousar a prosperidade do mundo.
O fim da Primeira Guerra já marcava claramente a crise final da hegemonia
inglesa no sistema capitalista, o declínio econômico da Europa e a expansão
econômica dos EUA. No entanto, o imperialismo norte-americano ainda não tinha
conquistado a posição de potência hegemônica na esfera capitalista. Isto é, sua
ascensão ainda não representava uma nova divisão mundial de forças, esferas de
influência e mercados.
O poderio dos EUA e a debilidade do imperialismo europeu aumentaram os
conflitos com as potências da Europa. Uma tendência prevista em análises da
Internacional Comunista, particularmente por Trotsky, nos anos 1920.
Mediante uma política expansionista e agressiva, potências imperialistas,
como o Japão e a Alemanha dos anos 1930, procuraram uma maior participação no
mercado mundial.
Já nos EUA, a partir do New Deal, plano empregado pelo presidente eleito
Franklin Roosevelt, pôs uma breve interrupção à depressão. Diante de um enorme
desemprego e um possível descontrole social, o governo fez com que o Estado
interviesse na economia, criando grandes obras de infra-estrutura,
salário-desemprego, assistência aos trabalhadores e concessão de empréstimos.
No entanto, os Estados Unidos só conseguiram retomar seu crescimento econômico
com o início da produção armamentista para a Segunda Guerra Mundial, no final
de 1940.