A História nos Séculos XV e XVI

 O Renascimento e a Historiografia Renascentista 

Como deve se recordar, a idade média foi um período marcado por uma acentuada regressão em diversos domínios, particularmente, durante a chamada Alta Idade Média. A economia urbana baseada no comércio que se desenvolveu na época clássica, na Grécia e Roma, desapareceu e foi substituída por uma economia rural baseada na agricultura. 

Politicamente o poder passou para os senhores feudais e, o rei passou a ser uma “figura decorativa”. O Cristianismo tornou-se numa religião dominante no Ocidente. Entretanto, na Baixa Idade Média assistiu-se ao início de um processo de recuperação que, embora abalado no final do século XIV por crises epidemias e guerras, prosseguiu nos séculos XV e XVI conduzindo a grandes transformações: 

 A nível económico foi o tempo da expansão europeia, que permitiu a entrada de grandes quantidades de capitais na Europa estimulando a sua economia; o comércio colonial desenvolveu-se tornando-se também importante fonte de acumulação de capitais na Europa; essa evolução foi acompanhada pelo surgimento de novas teorias económicas – Mercantilismo e Fisiocratismo; 

 A nível social regista-se a afirmação progressiva da burguesia, cada vez mais forte economicamente. O comércio, interno e externo, permitiu a burguesia amealhar mais e mais riqueza tornando-se a cada momento uma classe mais forte.

 Politicamente foi o tempo do surgimento dos regimes absolutistas – a burguesia que foi sempre se enriquecendo graças ao comércio e que entretanto não tinha poder e enfrentava barreiras internas para a prática do comércio pretendia acabar com o poder dos senhores feudais por isso começou a financiar os reis para a formação de exércitos nacionais, pagamento de funcionários públicos e outras despesas administrativas. Assim os reis, com apoio da burguesia, puderam repor a sua autoridade e criar estados centralizados e impor um poder absoluto. 

 Emergência do conhecimento Científico – a necessidade de construção das embarcações, de aperfeiçoamento das técnicas de navegação e de construção e utilização de instrumentos de orientação, para tornar possível a expansão, bem como as novas descobertas que a própria expansão permitiu, contribuíram para estimular o desenvolvimento científico.

  No campo religioso ocorreu a reforma protestante - um dos acontecimentos mais marcantes da época que trouxe novas abordagens na religião cristã. Em síntese, os séculos XV e XVI foram marcados por grandes transformações que levaram a uma verdadeira Renovação Cultural marcada pelo desejo de mudança – o Renascimento. 

Criticando a sociedade e a cultura medieval, o Renascimento defende a revalorização da época clássica. Portanto a arte do Renascimento inspira-se na arte clássica - classicismo. Outro aspecto relevante deste movimento consistiu na tentativa do homem de acreditar na sua própria capacidade - Humanismo. Como é que esta evolução dos séculos XV e XVI influenciou a evolução da Historiografia naquele período? 

Veja a seguir Como acabou de ver ainda nesta lição, o Renascimento favoreceu o surgimento de um pensamento humanista, que defende o livre arbítrio, o valor da experiência e o desejo de glória individual, e para a história esta tendência no pensamento conduziu a história humanista, que reduz o papel de Deus. 

O homem vai-se sentindo cada vez mais o construtor e responsável do processo histórico. O pensamento humanista deu também lugar a ideia da relatividade das coisas e a experiência passou a ser o critério de verdade. 

Por influência da reforma religiosa desenvolve-se a preocupação da crítica de textos, através da qual os movimentos religiosos dedicam-se à análise dos textos sagrados para fundamentarem a sua doutrina e se auto proclamarem legítimos herdeiros das primeiras comunidades cristãs. Sob influência do Renascimento a história seguiu um novo rumo, humanista, caracterizado por: 

 Abordagem crítica do passado nacional ou urbano, por poetas, literatos, diplomatas retirando assim a tarefa de escrever história aos monges.

Alargamentos da temática histórica, embora os aspectos políticos continuassem com maior expressão.  Mudança da forma de exposição, com a substituição da crónica medieval pelos anais, com destaque para a biografia. Uma nova abordagem metodológica, com início na ordenação metódica das fontes, graças a contribuição de vários historiadores como: 

 Flávio Biondo que começou a reunir e a comparar as fontes com algum sentido crítico; 

 Calchi, pioneiro no uso de documentos e inscrições; 

 Lourenzo Valla o primeiro a defender a crítica filológica das fontes; 

 Giustiniani que introduziu a crítica histórica objectiva submetendo todos os dados da tradição a crítica da sua possibilidade de aplicação prática. 

Representantes da História Humanista 

 Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) – defendeu uma nova concepção de Estado: 

O Estado temporal, soberano, independente da igreja, centralizado e único.

Nas suas obras “ Discorsi sopra la prima decada de Tito Lávio” e “ II Principe “ Maquiavel adopta já uma atitude científica procurando explicar os fenómenos sociais que descreve pela intervenção de factores naturais como o clima, a natureza humana, etc.

O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, é uma obra basilar da ciência política moderna, constituindo, também, um dos clássicos do pensamento estratégico. A imagem de uma Itália acossada, durante mais de vinte anos, pelas invasões e guerras iniciadas no final do século XV e que se prolongaram até 1515, levou Maquiavel a incitar Lourenço de Médicis, senhor de Florença, a arvorar o estandarte da liberdade, criando um arco de união entre todos os italianos, expulsando os exércitos estrangeiros e fundando um novo Estado, alicerçado em “boas leis” e “boas armas, com exército próprio”.

 Lourenzo Valla (1407 – 1457) – escreveu uma obra com o título “ De falso credita et emetita ccontantine” na qual apresentava as suas ideias sobre procedimentos de crítica histórica. Com essa obra criouse um dos maiores instrumentos de crítica histórica - a filologia humanística - que consiste na comparação de estilos documentais, erros de tradução, etc.). 

 Francis Bacon (1561 – 1626) Defende a superioridade dos tempos actuais em relação aos antigos e a ciência experimental sobre as concepções teóricas do passado. Para ele, as ciências devem ser renovadas e colocadas ao serviço do progresso da humanidade através das leis da natureza. 

Jean Bodin (1530 – 1569) defende que a história deve ser uma espécie de tábua da verdade e dos acontecimentos; e quem a ela se dedica não deve começar pela história de Deus, mas pela dos homens. Defendia igualmente a influência do clima sobre a natureza física e psíquica dos homens. 

 Fernão Lopes escreveu a crónica de D. João I, na qual está patente a defesa da independência do historiador perante as autoridades e, o sentido da sua responsabilidade perante o povo. Segundo Fernão Lopes o motor da história, é a sociedade no seu conjunto, ou mais propriamente, o povo. 

Uma das maiores conquistas da história do século XV foi a formulação da regra de ouro da história, a de que aquele que escreva história de acontecimentos deve conhecer e encadear os factos, as datas, os projectos e os resultados.


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