A Historiografia na primeira metade do século XIX
O Contesto Histórico do Século XIX
O século XIX ficou marcado como aquele em que se assistiu a especialização da História, adquirindo, assim, estatuto de ciência na acepção actual do termo.
As transformações que se vivem no século XIX têm as suas origens na Revolução Francesa e na Revolução Industrial, bem como em outros períodos da história da França, como por exemplo o Directório (1795- 1799), o consulado (1799-1804), o império (1804-1814), a Restauração (1814-1830), A Monarquia de Julho (1830-1848).
Estas transformações conduziram à emergência de diversas correntes de pensamento e historiográficas, como; o Romantismo, o Positivismo, o Historicismo e o Marxismo.
A Revolução Francesa (1879), pôs fim ao sistema feudal abrindo espaço para a estruturação do poder burguês - liberal. Contudo, a constituição de 1791 não resolveu de facto os problemas dos camponeses e operários. Se com a constituição francesa de 1791 a burguesia alcançara os seus objectivos, a mesma não o foi para os trabalhadores.
Os san-culottes perderam direitos laborais como a greve, o descanso semanal, a organização sindical e foram reduzidos a menoridade política ao adoptar o regime do sufrágio censitário e trabalhavam mais de 15 horas diárias.
Em suma, a excepção da abolição dos direitos feudais, que beneficiaram especificamente aos camponeses pobres, as outras conquistas da revolução nunca passaram, para os sans-culottes, de conquistas abstractas., dai o antagonismo desta classe à burguesia.
Com a Revolução Industrial, no século XIX, um conjunto de sucessos científicos e técnicos serviram de base à construção de novos valores e novos destinos na vida do Homem. A tecnologia deu lugar a especialização dos operários com a orientação dos cientistas.
Foi assim implantado o pensamento científico que respondia as questões da razão e as exigências postas pelas necessidades humanas.
A industrialização trouxe progressos materiais e com eles novas exigências nas ciências naturais, bem como uma série de problemas na sociedade como a propriedade privada, as relações de classe, etc. Impondo o seu estudo pelas ciências sociais com a filosofia, sociologia, pedagogia, etc.
O Romantismo A revolução francesa (1879), também influenciou bastante o pensamento do século XIX. O principal resultado da Revolução Francesa foi acabar com o regime absolutista e implantar o liberalismo.
Ora bem, essa mudança abriu espaço para um ambiente mais livre em que as pessoas podiam se expressar livremente. Neste contexto tornou-se possível a expressão de sentimentos que durante séculos foram reprimidos e criouse um clima emotivo que favoreceu a implantação e expansão do Romantismo. Portanto o Romantismo pressupõe liberdade. Victor Hugo, por exemplo, que era um artista de renome, definia Romantismo como a “liberdade na Arte”.
Características do Romantismo
Liberdade política;
Nacionalismo/patriotismo;
Arte e o progresso da imprensa;
Moral;
Exaltação do excepcional;
Defesa da natureza;
Defesa da sensibilidade e imaginação
O Romantismo reflectiu em si as ideias das várias camadas sociais envolvidas na revolução francesa, destacando por isso três tendências distintas a saber: Romantismo Conservador, Romantismo Liberal e Romantismo Liberal.
Romantismo Conservador
Das velhas classes privilegiadas, a nobreza e o clero que desejavam repôr a velha ordem aristocrática, isto é o poder do rei e a supremacia da igreja.
Romantismo Liberal Da burguesia vencedora na revolução francesa e que julgava efectivamente realizados os ideais da revolução.
Aspirava a implantação de um novo regime, burguês, assente nos ideais defendidos aquando da revolução francesa.
Romantismo Socialista Defendido pelos sans-culottes, o proletariado, que passa a ser oprimido pela burguesia. A Historiografia Romântica Sob influência do romantismo, na primeira metade do século XIX, a História registou progressos que podem se resumir no seguinte:
Alargamento da investigação histórica, onde o passado passa a ser o fulcro das atenções e, na busca das origens, descobre-se a Idade Média.
O gosto pelo passado redescobre, também, a ideia de mudança e progresso histórico
Alteração do objecto da História que para além dos factos políticos e individuais, consideram-se os factos mentais e ideológicos, o conhecimento do global das sociedades e das suas instituições.
O interesse dos historiadores debruça-se também por outros povos e civilizações e pelo exotismo dos seus costumes. Veja, caro aluno, o que dizia O historiador Alexandre Herculano a cerca do objecto de estudo da História:
Leitura
(...) No estdo actual das ciencias históricas, não é lícito aos historiadores limitaremse à narrativa dos sucessos políticos, no meio dos quais os povos se constituíram, desenvolveram e progrediram no caminho indefinido da civilização. Cumpre-lhes colocar ao lado dos fenómenos da vida externa das nações os que formam a sua vida interna, a sua autonomia. São duas ordens de factos que mutuamente se explicam, e sem cuja aproximação a philosophia histórica seria impossível Alexandre Herculano, em carta a José Machado de Abreu (1853)
Ao nível metodológico, há uma preocupação em definir o método científico assente num elevado espírito de rigor, prudência, reserva que pressupõe um tratamento cuidadoso dos factos antes de proceder a generalização.
Leitura
Qual o espírito que prevalece hoje na ordem intelectual, na investigação da verdade, seja qual for o seu objecto? Um espírito de rigor, de prudência, de reserva, o espírito científico, o método filosófico. Esse método observa cuidadosamente os factos e só faz generalizações lentamente, progressivamente à medida que os factos são conhecidos. (...). Guizot, História da Civilização in: História 12º Ano de Escolaridade P.A. Neves, A.L. Pinto e C. P. do Couto
Principais representantes do romantismo:
François Guizot (1787-1874), demonstra que o facto histórico não é apenas o conhecimento, mas também a relação entre os acontecimentos. Que não é somente o facto político, mas ainda o facto de civilização. Augustin Thierry (1795-1856), na História de lá conquête de l´Angleterre par les Normands (1825)e em Récits des Temps Merovingiens (1840), insiste na rectidão da narrativa e na exactidão do tom.
Procura substituir a história dos grandes e dos príncipes pela das massas populares.
No entanto, não põe bastante rigor na crítica das suas fontes. Julius Michelet (1798-1874), precursor da concepção actual da História total; procura ressuscitar integralmente o passado nos seus organismos interiores e profundos, dando um lugar importante aos factos económicosociais, culturais, religiosos e psicológicos. Alexande Hereculano
- Este, seguiu a Guizot e Thierry.Valoriza a sociedade e o povo trabalhador. Ao invés de se dedicar à história particular dos indivíduos e de peripécias, preocupou-se com a História colectiva, das instituições, do direito, dos sentimentos colectivos, relações políticas entre as diversas formações e classes sociais.