A Historiografia Medieval

 A História Cristã Medieval A Sociedade Medieval 

O desmoronamento, isto é, a queda do Império Romano do Ocidente, no século V, na sequência da tomada de Roma pelos bárbaros, marcou o fim da Antiguidade esclavagista e o início da Idade Média. 

Neste processo, acompanhado por incursões dos bárbaros sobre as cidades romanas, regista-se o abandono das cidades e o refúgio nos campos, onde as populações se organizam em pequenas comunidades rurais baseadas na identidade religiosa (neste aspecto diferem das primeiras comunidades rurais aglutinadas com base na consanguinidade). 

A Idade Média acompanhou a implantação e assunção, no ocidente, do Cristianismo como forma de pensamento e cultura dominantes. Esta transformação levou ao surgimento de uma nova concepção historiográfica baseada na concepção cristã do mundo. Neste contexto surgiu a historiografia medieval cujas principais características eram: 

 Considera que toda a acção humana é movida pelos desígnios de Deus e como tal a sabedoria da História é a Sabedoria Divina; 

 Coloca como objectivo da História, antes de mais, o cumprir desses desígnios por todos os povos; 

 Defende que acima da vontade dos homens está a vontade de Deus e seu desígnio sobre o Mundo, ou seja a Providência;

É uma História Universalista (começa sempre em Adão e termina na época do Historiador, repetitiva e cíclica, apologética e apocalíptica (prevê o fim do mundo). 

Os géneros predominantes são os anais e os cronicões. Uns e outros são narrativas sobretudo de factos político – militares, que tomam por unidade de tempo períodos mais ou menos longos. 

A diferença reside no facto de os anais dividirem as épocas estudadas em períodos de um ano, relatando secamente os factos. Além dos anais e cronicões também constituem literatura histórica medieval vários outros documentos, sobretudo de origem eclesiástica, tais como: 

 Hagiografias; 

 Histórias; 

 Actas de sínodos e concílios; 

 Bulas e outros diplomas de origem papal; 

 Obras de clérigos seculares; 

 Manuais dos confessores, etc. Para a reconstituição da história medieval existem também fontes civis de natureza oficial nomeadamente os diplomas régios, bem como fontes provenientes da cultura popular, o folclore. Ao nível metodológico, o trabalho do historiador cristão privilegia a interpretação dos dogmas divinos em detrimento da investigação das razões humanas. Os aspectos morais sobrepõem-se aos vividos na explicação dos fenómenos. 

O Contributo dos Cristãos e dos Muçulmanos É certo que a Idade Média viu interrompidos alguns dos progressos alcançados na Época Clássica, sobretudo quanto ao objecto e aos métodos da História. Contudo são de inegável valor as contribuições dos cristãos e dos árabes a nível da concepção e da Filosofia da História. Os cristãos contribuíram de duas maneiras para o desenvolvimento da História: 

 A concepção da primeira filosofia da história – ao considerar o papel da providência como motor da História; 

 A ideia de evolução contínua e irreversível - o que é claramente um passo em frente na evolução da história; A evolução da História na Idade Média esteve, também, ligada aos contributos trazidos pelos árabes, particularmente Ibn Khaldum, que tentou analisar as estruturas dos grupos sociais e de relacionar domínios diferentes da realidade.

A Historiografia do Século XIV A última fase do período medieval, em particular na segunda metade do século XIV é caracterizada por uma notável alteração na ordem estabelecida na época medieval e a implantação de uma nova dinâmica caracterizada por:  Revoltas, no campo, entre os trabalhadores rurais e os proprietários das terras e na cidade entre os artesãos e os grandes mercadores;  Desenvolvimento do comércio 

 Surgimento da burguesia que se torna nova força económica. Esta burguesia constrói fábricas, empresta dinheiro, comanda as rotas comerciais terrestres da Europa e Ásia, etc. Também começa a erguer, em torno das antigas cidades, os burgos de que resultará a designação burguesia, projectando algumas cidades à categoria de república (Veneza, Florença, Génova, etc.) Os burguesas também dominam o saber, pois são eles que maioritariamente frequentam as universidades europeias.

No século XIV a burguesia era consideravelmente forte a nível social, económico e cultural, mas o poder político continuava nas mãos da nobreza e do clero, detentores dos bens fundiários. 

Neste contexto histórico, e tendo em vista defender o poder das classes dominantes (nobreza e o clero), surgiu um novo tipo de historiografia designada Palaciana, de iniciativa régia ou senhorial, produzida nas corteses reais ou senhoriais por cronistas ao serviço dos senhores ou dos príncipes e sob encomenda destes. Se os cronistas trabalhavam para os senhores ou príncipes, que lhes pagavam por isso, fica claro, que o que eles escreviam devia ser do agrado de quem lhes mandava escrever. 

Portanto, a história palaciana era uma história, em geral, mais preocupada em apresentar a imagem mais conveniente à instituição servida pelo cronista do que com a verdade e objectividade dos factos. Em paralelo com esta história, alguns historiadores tentam, movidos pela ética profissional, transmitir aquilo que julgam ser a verdade. Por seu turno a burguesia inicia a produção de uma história burguesa que se debruça sobre a cidade, onde esta camada social já é autónoma. 

A nível metodológico, os cronistas do século XIV continuam a fazer a compilação, porém começam aliar esta prática com o inquérito no terreno. 

Mas havia ainda muitas limitações tais como o predomínio da narração sobre a investigação dos factos, bem como o facto de as tomadas de decisões serem quase sempre favoráveis aos detentores do poder. No que se refere ao objecto de estudo assinala-se a primazia dada aos deuses a que se seguiam logo os senhores e os príncipes.


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