O Crime do Padre Amaro
O Crime do
Padre Amaro, obra do escritor português Eça de Queirós publicada em 1875 faz,
através de sua narrativa, uma direta crítica à vida hipócrita do clero e da
sociedade burguesa.
Após a morte
do pároco José Miguéis, foi transferido para Leiria um padre jovem chamado
Amaro Vieira. Aconselhado pelo cônego Dias, seu mestre de moral no seminário,
Amaro foi instalar-se na casa da D. Joaneira. À noite na casa, havia encontros
entre beatos e o clero, marcados por jantares, músicas, conversas, jogos e
discussões sobre fé. É nesse cenário que padre Amaro encanta-se por Amélia, uma
jovem muito bonita e passam a trocar olhares, despertando o ciúme de João
Eduardo, noivo da moça.
O narrador,
através de uma retrospectiva, conta que Amaro ingressou no seminário aos 15
anos, por obediência a sua tia que lhe criara com os preceitos cristãos. Porém,
não era esse o seu desejo. Desejava mesmo era estar com uma mulher, chegando
até associar a imagem de Nossa Senhora a uma, sentindo desejo por ela. Sendo
assim, não por vocação e mais por comodismo, Amaro tornara-se padre. Em Leiria,
rezava missas por costume, mas seu pensamento e sua ocupação era Amélia.
O primeiro
contato físico entre o casal aconteceu numa fazenda da família; Amaro beijou o
pescoço de Amélia, e ela saiu correndo. Amaro, com receio de se envolver mais
intimamente e todos descobrirem, resolveu se mudar para outra casa. Enciumado
pelas visitas de padre Amaro, o então noivo de Amélia escreveu o comunicado “Os
modernos fariseus”, onde fez várias acusações contra os padres, inclusive
mencionou que o padre Amaro estaria se envolvendo com uma “donzela
inexperiente”. Após isso, o pároco aconselhou que Amélia desfizesse seu
noivado, pois João Eduardo não seria digno. João Eduardo fica sem emprego e,
revoltado, dá um soco no jovem padre.
Amaro volta a frequentar as reuniões na casa
de D. Joaneira e se aproximar de Amélia, sem os olhos enciumados de João
Eduardo. Numa oportunidade, voltando de uma visita à casa do cônego que estava
doente, os dois param na casa do padre e tem ali sua primeira noite de amor.
Dionísia, criada, aconselha ao padre a se encontrar com a jovem na casa do
sineiro, onde seria mais discreto. Para o sineiro Tio Esguelhas, Amaro disse
que Amélia queria se tornar freira e que ele iria ajuda-la nessa missão. Para a
família, Amélia iria ajudar a Totó nas lições religiosas. Os dois passam então
a se encontrar várias vezes na semana. Ela começa a sentir-se culpada, mas não
recusa o padre. Amélia acaba ficando grávida. Aconselhado pelo cônego, a
primeira saída seria casa-la com João Eduardo. Este, porém, tinha vindo para o
Brasil. A alternativa é então mandar Amélia junto a D. Josefa, que estava
doente, ao interior até chegar a hora do parto. Quando a hora chegou, Amaro
entregou a criança a uma família que tem a fama de matar as crianças que lhe
são entregues. E a criança realmente morre. Amélia não suporta ficar longe do
filho, acaba também por morrer. Padre Amaro, sem saber o que fazer e tentando
fugir dos acontecimentos, muda-se da cidade. Depois de algum tempo, encontra-se
casualmente com o cônego Dias e afirma que “tudo passa”.
CONTEXTO
Sobre o
autor
José Maria de Eça de Queirós nasceu em 1845, em Portugal. É considerado um dos
mais importantes escritores portugueses. Quando criança, ficou internado num
colégio da cidade do porto. Quando adulto, formou-se em Direito, e além de
advogado, foi também jornalista. Em sua época, foi o primeiro grande escritor
português a conquistar reconhecimento internacional
Importância
do livro
O Crime do Padre Amaro é a maior obra do escritor Eça de Queirós. Sua
publicação marca o início do Realismo português e é considerada por muitos a
melhor obra do movimento. Devido a denúncia de corrupção dos membros da
igreja e a discussão sobre a quebra do celibato, sofreu perseguições da Igreja
Católica.
Período histórico
Na segunda metade do século XIX, Portugal passava por grandes transformações;
não apenas sociais, mas também filosóficas. Eça teve assim uma grande
influência do positivismo de Comte. No literário, o social passa a ser
discutido, analisado, deixando de lado a visão romântica voltada para o eu. O
principal, agora, passa a ser a discussão dos problemas sociais.