Consequências para Moçambique
Tal como nos casos de outras colónias europeias, Moçambique passou a ser dominado pelos interesses políticos, económicos e estratégicos de Portugal nos finais do século XIX, quando vigorava um regime liberal de monarquia constitucional. O objectivo da colonização era a exploração económica, pelo que não houve grande preocupação com as condições de vida da população moçambicana.
A maior parte dos desenvolvimentos e melhorias que tinham lugar na
colónia destinavam-se apenas a facilitar a exploração económica ou a criar
condições mais adequadas aos modernos padrões de vida a que a classe dirigente
europeia aspirava. Os benefícios para a grande maioria da população moçambicana
eram poucos. A população passou a ser obrigada a trabalhar nas explorações das
companhias e as matérias-primas passaram a ser exploradas pelos colonos
portugueses. A progressiva passagem das terras para as mãos dos colonos fez com
que os antigos proprietários deixassem de ser produtores e se vissem obrigados
a ter de trabalhar como assalariados. Muitos moçambicanos tiveram, também, para
poderem sobreviver, de ir trabalhar nas minas, plantações e fábricas da colónia
inglesa do Natal e da república africânder do Transval (ambas na actual África
do Sul). Todas estas alterações provocadas pelo sistema colonial tiveram
consequências ao nível da organização social tradicional moçambicana: se por um
lado permitiram a muitos trabalhadores (através da emigração) um aumento do seu
poder de compra e um certo desenvolvimento do comércio, por outro lado fizeram
diminuir a mão-de-obra disponível para os trabalhos na comunidade; as famílias
foram ficando cada vez mais dependentes do trabalho assalariado (em especial do
dos homens); colocaram em risco a própria economia de subsistência, devido ä deslocação
das mulheres para actividades fora do âmbito da família; obrigaram até a alteração
de algumas instituições sociais, como o Lobolo, por exemplo, devido ao facto do
rendimento familiar ter passado a provir de um salário.
Conceitos
Liberalismo — Doutrina politica, económica, social e
cultural de inspiração iluminista. Defende, no essencial, as ideias de
liberdade individual, propriedade privada, igualdade e respeito pelos direitos
dos cidadãos. Difundiu-se na Europa, entre os séculos XVIII e XIX, em oposição
ao Antigo Regime. A sua implantação política fez-se através das revoluções
liberais burguesas.
Lobolo — Compensação matrimonial destinada a contrabalançar,
na família da noiva, a perda de um dos seus membros produtores e reprodutores.
Os bens que compõem a compensação, bem como os eumontante, podem variar. Com o
impacto capitalista, a compensação começou a ser dada em dinheiro.