A Luta Anticolonial e a Formação Das Primeiras Organizações Nacionalistas (UDENAMO, UNAMI e MANU)
Se nas cidades surgiam movimentos de
contestação, também no campo as populações se revoltavam contra o sistema
colonial. A contestação e resistência acabaram por levar à formação das primeiras
formações políticas moçambicanas, a UDENAMO, UNAMI E
MANU.
A Resistência No Campo
No planalto de Mueda desenvolveu-se um
movimento rural que conseguiu aproveitar temporariamente o sistema económico
colo nial e as circunstâncias específicas locais. De que forma? Os macondes do
Norte de Moçambique criaram sociedades algodoeiras.
A
organização, criada por um grupo misto de camponeses, comerciantes e
professores de Mueda, tem sido considerada como representativa dos esforços
nacionalistas. Embora dedicada a desafiar a ordem prevalecente, a organização
foi também uma instituição que procurou integrar-se na economia colonial, conferindo
aos seus promotores a possibilidade de um melhor negócio com as autoridades
portuguesas e com as empresas de comercialização do algodão. Constituiu um
esforço organizativo para afastar o bloqueio imposto pelo Estado Colonial à
expansão económica desse grupo de macondes ricos.
Adam
Yussuf, Boletim do Arquivo Histórico de Moçambique, n.° 14, p. 20
Neste contexto, em 1957, surgiu em Cabo
Delgado a Sociedade Algodoeira Africana Voluntária de Moçambique (SAAVM),
dirigida por Lázaro Kavandame (presidente), João Namimba (vice-presidente),
Cornélio João Mandanda e Raimundo Pachinuapa (secreta rios). Inicialmente
constituída por 12 membros, no decorrer do tempo este número foi-se alargando,
tornando-se uma potencial ameaça política, uma base para possíveis contestações
ao regime. É preciso destacar que a SAAVM foi a primeira forma organizada de
tipo unitário no planalto de Mueda, o primeiro centro de discussão e de difusão
da ideia de independência no meio camponês, situação que vai favorecer mais
tarde a actuação da FRELIMO.
O ponto alto da resistência no campo
deu-se no quarto encontro entre o presidente da SAAVM e o governador da
província de Cabo Delgado. No dia 16 de Junho de 1960, o governador avisou os
membros da SAAVM que, dado ter havido várias reclamações em relação à sua
existência, decidira prender os porta-vozes da MANU (que apoiavam a
independência da província), Faustino Vanomba e Kibiriti Diwane. Esse foi o
mote da revolta que se seguiu. Ao verem os seus compatriotas algemados e serem
levados para a cadeia, os moçambicanos tentaram impedir o arranque do carro.
Mas as tropas portuguesas abriram fogo. E aconteceu assim o massacre de Mueda
em 1960. Este massacre mudou para sempre e de forma irreversível a forma de os
moçambicanos verem os portugueses. A partir daqui, tudo mudou, no campo e na
cidade. Para além da criação de mecanismos fiscais e económicos de protecção, a
comunidade rural protestava de outras formas, tais como: cozendo sementes;
diminuindo o ritmo de produção; fugindo para os países vizinhos.
A Formação Das Primeiras Organizações Nacionalistas:
Convenção do Povo de Moçambique;
Uniao Democratica Nacional de Moçambique (UDENAMO);
União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI);
União Africana Nacional de Moçambique (MANU)
Por volta de 1960 havia três
organizações nacionalistas que, com meios pacíficos, tentavam obter a
independência. Elas tinham como militantes-base os imigrantes moçambicanos nos
países vizinhos e operavam, por isso, sob um perfil regional e clandestino quando
se deslocavam a Moçambique.
Nos finais da década 50 é constituída
na África do Sul a Conven ção do Povo de Moçambique. São poucas as informações
existentes em relação à actividade desta organização. Sabe-se somente que os
seus líderes foram Tomás Nhantumbo, de Madender, Dr. Agostinho Ilunga
(representava o partido na Suazilândia) e Dinis Menjane, de Manjacaze e
residente em Durban.
Os nacionalistas do Sul e Centro de
Moçambique formaram, na Rodésia, a UDENAMO (União Democrática Nacional de
Moçambique)1 A UNAMI (União Nacional Africana de Moçambique Independente) tinha
o seu apoio principal entre os moçambicanos das províncias de Tete, Zambézia,
mas operavam através do Malawi. Os imigrantes, especialmente da província
nortenha de Cabo Delgado, formaram a MANU (Mozam bique African National Union).
Na MANU existia também o núcleo dos camponeses que tinham tentado criar as suas
próprias formas para a produção de algodão (SAAVM).
Desde a década de 50, a situação no
Norte de Moçambique tinha-se tornado fonte de grande preocupação para a
administração colonial portuguesa devido a vários factores:
·
O movimento dos Mau-Mau no Quénia
contagiava as consciências dos moçambicanos na diáspora;
·
As acções conducentes à
independência da Tanzânia levaram a que muitos moçambicanos que lá residiam
ansiassem pela independência;
·
A administração colonial não era
muito forte no Norte de Moçambique (era sobretudo feita por funcionários
públicos e serviços residuais e o grosso do colonialismo português estava
implantando no Centro e sobretudo no Sul de Moçambique);
·
Os macua nos tinham imensa
capacidade de luta;
·
Havia uma enorme insatisfação das
populações rurais que, para além de terem de cultivar a monocultura, começaram
a ter de pagar a água.
Quando
a MANU apareceu nós [Cesário Tomás Pinda e Ali Namenda] confiámos nela porque
era um movimento que vinha para nos libertar, mas no decorrer do processo
verificámos que não havia Indivíduos ca pazes de dirigir o movimento. Os
elementos que existiam eram ladrões por que enganavam as populações e comiam o
dinheiro, tal como descobrimos depois. A preocupação desses líderes era roubar
o dinheiro das pessoas. O massacre de Mueda não teria ocorrido se os líderes
tivessem tido a calma necessária.
Depoimento
de CesárioTomás Pinda e Ali Namenda, ¡nAdamYussuf, Boletim do
Arquivo
Histórico de Moçambique, n.° 14, p. 27
Ainda que imperfeito, o surgimento
destas organizações significou um passo em frente na construção de um movimento
nacionalista. Elas colocavam como objectivos a luta anticolonial e pela
independência, ao invés de simples ajuda entre grupos. As suas actividades
estavam influenciadas pelo clima político dos territórios que os albergavam, as
colónias britânicas. Entretanto, mostrou-se impossível criar um diálogo com
Portugal e o sistema das Nações Unidas não oferecia quaisquer caminhos
possíveis.
Conclusão
Terminada a abordagem
pôde concluir-se que a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO) jogou
um papel decisivo na fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) a
25 de Junho de 1962, de tal ordem que os seus estatutos constituem a base sobre
a qual assenta toda a filosofia política do partido no poder, com as devidas
adaptações.
Esta organização, foi fundada em 1962 através
da fusão de 3 movimentos constituído no exilo, nomeadamente, a UDENAMO (União
Nacional Democrática de Moçambique), MANU (Mozambique African National Union) e
a UNAMI (União Nacional de Moçambique Independente).
Dirigida por Eduardo Chivambo Mondlane, a
FRELIMO iniciou com a luta de libertação Nacional a 25 de Setembro de 1964 no
posto administrativo de Chai na província de Cabo Delgado. O primeiro
presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, acabaria por morrer assassinado a 3 de
Fevereiro de 1969.