A historiografia Grega e o Início da Cientificação da História
Até ao século V a.n.e., tal como em todo o oriente, também existiu na
Grécia a abordagem mítica e teocrática da história. Dos vários mitos
destacou-se o mito das cinco idades que considerava que a humanidade
tinha passado por cinco etapas de evolução nomeadamente a idade do
ouro, da prata, do bronze, dos heróis e do ferro.
Leitura
O mito das cinco idades
De ouro foi a primeira raça dos homens dotados de voz que
os imortais criaram, eles que são habitantes de Olimpo (...)
para eles tudo era perfeito: o solo fértil oferecia-lhes por si
frutos numerosos e abundantes; e eles contentes e tranquilos
viviam da terra, no meio de bens inúmeros.
A segunda raça a vir, a de prata, bem pior que a anterior,
fizeram-na os deuses que habitam no Olimpo. (...)
Zeus pai modelou ainda uma terceira raça de homens
dotados de fala; a de bronze – (...)
Depois que a terra encobriu esta raça, Zeus Crónida
modelou ainda a quarta (...)
Agora é a raça de ferro. Nem cessam de dia, de ter
trabalhos e aflições, nem, de noite, de serem consumidos
pelos duros cuidados que lhes oferecem os deuses. Mas no
entanto, algum bem será misturado aos seus males, Zeus
aniquilará também esta raça de homens dotados de voz
Hesíodo, “os trabalhos e os dias” In: R.R.Gomes,
Introdução ao pensamento histórico Livros Horizonte, 1988,
pp, 44/45
Pois bem, caro aluno, ao olharmos para esta abordagem sobre o passado
e, de acordo com o conceito de ciência, vê que ela não tem carácter
científico.
A história como ciência só inicia na Grécia Clássica, quando
Heródoto começou a fazer uma análise científica, definindo claramente
um objecto concreto para a História e propondo-lhe uma metodologia
própria. É o que nos leva a falar do surgimento da história na Grécia.
O progresso registado na História na época clássica não foi causal, mas
inserido em toda a evolução intelectual registada na época, impulsionada
pelo estabelecimento de um regime democrático em Atenas.
Veja então, caro aluno, como é que o surgimento da democracia ateniense
favoreceu o surgimento da História na Grécia.
O Estabelecimento da Democracia e Seu Impacto
A partir do século VII antes da nossa era (a.n.e) a Grécia foi sacudida por
revoltas sociais motivadas pelas crises sociais que se viviam, naquele
país.
Para tentar normalizar a situação interna foram propostas algumas
reformas.
As primeiras iniciativas reformadoras couberam a Drácon e a Sólon, mas
estas não foram tão radicais como esperavam as populações.
Assim,
novas convulsões populares se verificaram que só foram resolvidas pela
instauração da Tirania com Pisístrato no poder apoiado pelos camponeses
e descontentes.
Após a morte de Pisístrato, seus filhos não conseguiram manter o poder e
Clístenes dirigiu uma nova revolta social que venceu os aristocratas e
expulsou os espartanos.
Como resultado deste processo, no século V a.n.e., passado cerca de três
séculos de reformas, a Grécia era uma sociedade democrática.
Com o estabelecimento da democracia ateniense ficou aberta a
participação de todos os cidadãos na vida nacional, o que permitiu à
Grécia destacar- se em vários domínios da vida e do pensamento.
A evolução do pensamento grego da época reflectiu-se no desenvolvimento
de várias ciências, incluindo a História.
A estas transformações na vida política, económica e social juntou-se,
como factor externo do progresso dos gregos, a vitória sobre os persas,
que permitiu aos gregos tomar consciência do seu destino político.
Heródoto o “Pai da História”
O surgimento e desenvolvimento da história, na Grécia, deveu-se, em
grande parte, ao papel de Heródoto (484 – 424), o “pai da história”, o
primeiro a adoptar uma atitude científica em relação a História e também
ao papel de Tucídides.
As principais inovações de História grega podem ser sintetizadas no
seguinte:
Introdução de uma História universal – fazendo a passagem da
historiografia gentílica à historiografia ecuménica (universal) - ao
escrever não só sobre os Gregos, mas também, sobre os Bárbaros.
Explicação da razão dos factos - Uso de testemunhos fidedignos, ou
seja dignos de crédito - nesta perspectiva baseava-se na tradição oral e no
seu testemunho ocular.
No caminho de Heródoto esteve Tucídides cujo contributo essencial foi o
questionamento das fontes históricas, para apurar a sua veracidade e
credibilidade. Este posicionamento de Tucídides ficou bem patente no
seu relato sobre a Guerra do Peloponeso no qual tentou distanciar-se do
maravilhoso, privilegiando a informação objectiva e esboçando um
sistema explicativo.
Características da Historiografia Grega
Graças a Heródoto e Tucídides a História começou a caminhar para a sua
cientificação, adoptando um objecto de estudo, uma metodologia própria
e um objectivo bem definido, senão vejamos:
Estuda-se o passado e o presente dos homens ou simplesmente o
homem.
Alarga-se a noção de fonte histórica que, além da tradição oral,
considera os testemunhos oculares.
Cria-se uma metodologia que envolve a recolha de dados através
da observação e informação, a reflexão, análise crítica e a
comparação das fontes e, finalmente, a síntese;
A sua finalidade é a verdade histórica pelo que defende a
objectividade e neutralidade de análise.
Embora dando notáveis progressos a historiografia grega revela ainda
algumas insuficiências.
Os historiadores gregos viram-se confrontados com a contradição entre o
ideal da história universal baseada em fontes fidedignas (que defendiam)
e a incapacidade de falar de regiões relativamente afastadas, devido a
escassez de fontes. Deste modo, eles vêem-se obrigados a fazer uma
história regional e não a universal que defendem.
Por outro lado, as fontes orais e os testemunhos oculares não permitem
abarcar períodos relativamente longos, mantendo a fidelidade numa
história que busca de facto a verdade, pelo que ficam também a este nível
limitados
A história grega é limitada no tempo e no espaço.
A época clássica que teve início com a civilização grega, foi marcada nos
últimos séculos pela civilização romana. Agora, caro aluno, vai estudar,
em seguida, a civilização romana.
A Historiografia Romana
A obra historiográfica dos gregos teve seguimento no império romano,
resultante da conquista romana de vários estados na Europa, Ásia e norte
da África.
Os romanos, basearam-se na língua e nos moldes gregos para fazer uma
história tipicamente romana, que embora, apresentando alguns traços
comuns à grega, tem as suas particularidades, por exemplo:
Ligação ao passado, considerado o centro das virtudes
nacionais.
Carácter político uma História feita por homens políticos, que
aborda assuntos políticos e com fins políticos.
Para os romanos a história é, em geral, uma exaltação da cidade e do império,
o que a leva a assumir um carácter nacional e patriótico. É, portanto, uma
história apologética. Por outro lado é uma história pragmática. O carácter
nacional da história romana explica a predominância dos anais (anotações dos
principais acontecimentos políticos) nos escritos que lhe dão corpo.
Os Principais Historiadores Romanos
Políbio – Grego, prisioneiro em Roma, transmitiu aos romanos as
tendências racionalistas da historiografia grega.
A principal contribuição
de Políbio foi a aplicação do modelo de ciclo à História, conduzindo à
concepção de que a história é o conhecimento do geral, daquilo que se
repete, que obedece a leis e por isso é susceptível de previsão.
Tito Lívio – Intelectual ao serviço da política imperial, tinha como
principal preocupação elevar bem alto o rei e o império romanos.
Foi um
típico historiador romano.
Outros autores romanos foram: Tácito Flávio Josefo, Salústio, Plutarco,
Suetónio etc.