RELATÓRIO FORMAL

 Apresentação do texto

Texto

De:

António Machado

Chefe de secção de Presenças

Para:

Sr. João dos Santo

Chefe dos serviços oficiais

 

Tete, 30 de Junho de 2017

 

Assunto: Relatório de Acidente de Trabalho envolvendo o operário João Cabral, da Secção de Prensas

            Remeto à V.Ex.as o relatório de acidente de trabalho, envolvendo o trabalhador João Cabral, ocorrido às 7:30 horas, nas circunstâncias seguintes:

Um dos colegas do afinador João Cabral, da secção de Prensas e Dobragem, o operário Mateus, tinha acabado de põe a prensa em movimento e, como devia mudar de tarefa, pediu ao senhor João Cabral, a ficha de operações.

Este último, trouxe a ficha para junto da máquina. Verificando-a, notou que tinha de se mudar uma alonga de punção. O Mateus desceu ligeiramente a prensa e desapertou o parafuso da cabeça porta-punção.  Tentando soltar a alongada sem resultado, por causa dos pernos de fixação no punção principal, disse ao senhor Cabral que esperasse e, cortou a cabeça da máquina.

Mal tinha começado a procurar a chave na sua caixa de ferramenta, colocada à direita da máquina, ouviu o seu colega a gritar. Segundo disse, accionou imediatamente o botão que faria subir a prensa, mas era já tarde.

Do acidente, o senhor João Cabral, ficou com os dedos da mão direita, excepto o polegar, esmagados até à falange.

Segundo o inquérito que se procedeu, as causas do acidente terão sido as seguintes:

O senhor Mateus pretendia mudar a punção sem parar a máquina, e mesmo sem desengatar o comando do pedal, que serve para comando a maior distância, quando se trabalham peças de grandes dimensões. Desceu a prensa, mas não o suficiente, porquanto, para certos tipos de punções mais pesados, a simples queda destes bastaria, por si só, para provocar um acidente.

O senhor Cabral, de certo para ganhar tempo, tentou retirar a punção sem esperar pelo seu colega, puxando com a mão. Com o esforço, deve ter mexido ou terem-lhe escorregado os pés; provavelmente, o pé esquerdo que bateu no pedal de comando da descida e deu-se o acidente. É de crer que tenha sido ele próprio quem premiu o botão, porque os dedos não lhe foram amputados, o que, sem dúvida, teria acontecido se a prensa houvesse atingido o ponto morto inferior.

A responsabilidade é, pois, do sinistrado, por imprudência e desatenção. Antes de intervir, eram cuidados elementares descer a punção por completo e parar a máquina.

O senhor Cabral não é novato na secção de prensas, onde trabalha desde 13 de Setembro 1989 como operário condutor e desde 7 de Dezembro de 1992 como afinador. Faz notar que se trata de um homem hábil e cumpridor, terá sido precisamente ao reverso destas qualidades que o acidente deve imputar-se.

Deverá pôr-se em causa o material? A prensa em que se produziu o acidente possuí vários comandos:

- pedal de comandos à distância, para dobragem de grandes peças;

- botões que se usam para trabalhos próximo da máquina, desengatando o pedal. Este dispositivo tem diversas possibilidades, visando a segurança do trabalho;

- comando por um botão único, quando tem de segurar-se a prensa com a outra mão;

- comando por dois botões quando não se segura a peça;

- comando por quatro botões, para trabalho com dois operários. A ligação dos botões em curto-circuito, isto é, a sua neutralização, é feita com uma chave, sob a responsabilidade dos afinadores, chefe de grupos e contramestres.

O pedal tem um resguardo que evita acidentes por queda de objectos ou pancadas involuntárias ao passar-se próximo.

A prensa dispõe, portanto, de todos os dispositivos de segurança habituais, para evitar acidentes de trabalho, mas que parece, quanto ao último ponto referido, a protecção não é bastante.

Pode também recear-se que o senhor Cabral ignorasse que a máquina não tinha sido parada. Se assim foi, teria batido uma luz avisadora para que ele próprio a tivesse desligado.

Em conclusões, propõe-se:

Primeiro, chamar a atenção aos chefes de grupos, afinadores e operário da secção de Corte e Passagem de chapas, para os perigos e as medidas de prudência a observar.

Segundo, estudar a hipótese de munir as máquinas de lâmpadas avisadoras, indicando se o motor está ou não ligado; esta medida poderia evitar a repetição deste género de acidente.

Atenciosamente António Machado

 

Compreensão e interpretação do texto

Depois de lido o relatório que apresentamos, procura com clareza, correcção e concisão dar respostas às perguntas que lhe são coladas.

1. Você está em presença de um relatório. Identifique nele:

a) O remetente e o destinatário

b) O assunto nele reportado.

2. Delimite as seguintes partes:

a) Exposição dos factos.

b) Apreciação dos factos.

c) Conclusão.

3. “Relatar é ver para outrem”. Comente esta afirmação.

4. Que cuidados o relator cumpriu para a elaboração deste relatório?

Relatório Formal

Antes de nos debruçarmos pormenorizadamente em relação ao seu estudo, convém que alertemos desde já para a ambiguidade dos resultados da sua elaboração.

Na verdade, afirma-se que o relatório consiste “numa arma de dois gumes”, pois sendo fundamentado em factos realmente importantes e obedecendo a uma correcta elaboração torna-se um excelente elemento de trabalho; se, se baseia em aspectos ou factos pouco relevantes ou mesmo insignificantes converte-se num simples perda de tempo (quer para o leitor ou destinatário, quer para o relator).

Relatório – é uma descrição de factos passados, analisados com o objectivo de orientar o serviço interessado para determinada acção. Um documento elaborado com o objectivo de esclarecer uma situação que mais facilmente possibilite uma decisão.

Este elemento de trabalho, cada vez mais vulgarizado no seio de quase todas as profissões, toma particular importância no secretariado, que a ele recorre seja para pedir ou fornecer sugestões, seja para informar o chefe do decurso da aplicação de instruções recebidas.

Por isso o secretariado deve ser capaz de criar um relatório em todos os seus aspectos e de o apresentar de modo inteligente.

É frequente o seu uso na vida profissional: relatório de estágio; relatório de um funcionário ao seu superior; de uma comissão de estudo a um ministério; um relatório de pesquisa, etc. embora tenha uma extensão variável, deve ser cuidadosamente elaborado e apresentado com clareza. O texto de carácter informativo (científico ou não) que tenha objectivo fazer um relato de uma experiência, trabalho de investigação, colóquios, sessão de trabalho, e que introduza uma apreciação crítica devidamente fundamentada.

 4 Estrutura do relatório

Caríssimo estudante, verificamos anteriormente que o relatório se baseia em factos reais, que sucederam ou que existem, pelo que ao relatar competirá saber utilizar esse material.

É muito difícil abordar a questão da composição do relatório sem relacionar, ou pelo menos recorrer, ao plano de desenvolvimento.

a) Apresentação

compreende:

- Cabeçalho ou página do rosto: data e lugar

- O remetente: autor do relatório (nome, função etc.)


- O destinatário: (nome, função, etc.);

 

- O assunto: síntese do conteúdo.


Referir aqui que a elaboração dum relatório (simples ou complexo), depende muito da natureza do próprio relatório. No entanto, existem aspectos comuns a qualquer tipo de relatórios.

b) texto


Compreende:

- a exposição do (s) facto (s);

- a apreciação do (s) facto (s);

- as conclusões e sugestões.


c) Fecho

Compreende a assinatura do remetente (autor/relator), antecedida, às vezes, de uma fórmula de cortesia (“Atenciosamente”, “Atenciosas Saudações”, etc.)

d) Anexos compreende quadros, esquemas, tabelas, factos e quaisquer outros elementos que possam esclarecer o destinatário. Trata-se de informações complementares, não imediatamente necessárias ao corpo do relatório, onde poderiam, inclusive, perturbar o fluxo das ideias na leitura.

 

Cuidados na elaboração dos relatórios

Prezado/a estudante, “Relatar é ver para outrem”. Esta frase dá a medida exacta da importância do relatório dentro de uma organização ou instituição.

O relatório tem uma importância vital, a partir dele, das informações nele contidas, se tomam decisões que podem afectar profundamente uma pessoa ou um grupo de pessoas.

A exposição do relatório deve, portanto, estar cercada de uma série de cuidados, para que ele possa servir de apoio para decisões e acções o mais possível isentas de erro.

Na elaboração do relatório, recomenda-se, principalmente, os seguintes cuidados:

a) Quanto à exposição dos factos

Compete ao remetente (autor) iniciar directamente, sem rodeios ou dissertações, o texto do relatório.

Quando o autor participou nos factos em que se baseia, não há problemas. Se os factos são conhecidos através de depoimentos ou caso o autor não tenha presenciado os factos, convém comprovar a sua solidez.

Podemos, resumidamente, considerar os seguintes requisitos requeridos na sua elaboração.

- honestidade;

- objectividade e imparcialidade – deve-se tratar de um verdadeiro relato, sem forçar nem dramatizar os factos;

- fidelidade (o relato será completo, sem nada omitir de importante para o esclarecimento dos factos). Nunca serão demais os elementos que possam contribuir para esse esclarecimento.

- Utilidade (diga-se apenas o necessário em poucas palavras). Não se deve sobrecarregar o texto de comentários inoportunos, que mais não farão senão submergir, dividir o interesse do leitor, prejudicando a unidade.

- sobriedade e precisão (destacar-se-ão os aspectos dominantes, pondo em relevo o que é significativo, eliminando o não significativo, sem receio) e,

- clareza.

 

b) quanto à apreciação dos factos

 importante que o relator proceda a necessária reflexão do conjunto de informação recolhida. Importa compreender e equacionar o problema.

Feito o necessário, distinguidos os elementos úteis e inúteis, separado o verdadeiro do falso, cabe-lhe formular a já referida opinião pessoal.

É o momento de apreciação do problema, entendendo a sua urgência, gravidade ou banalidade, as suas vantagens e inconvenientes, pesando os possíveis riscos, determinando o seu custo e referindo o rendimento em perspectiva.

O relatório consiste numa última análise, numa resposta. O relator tem aqui a oportunidade de “cativar” a atenção do leitor.

Como a apreciação é o centro de gravidade do relatório, já que é o momento do relator formular um julgamento pessoal, exige-se aqui, entre outros os seguintes cuidados:

- toda a demonstração deve apoiar-se em factos;

- nada deve ser aceite sem plena justificação.

 

c) quanto à conclusão

é a conclusão que, em última análise, dá o significado do relatório, já que ela preconiza as medidas que devem ser tomadas por quem de direito.

sem qualquer receios, podemos afirmar que, sem as propostas finais não existe um verdadeiro relatório.

Os cuidados enunciados para uma correcta conclusão, devem apresentar as seguintes características:

- deduzir-se logicamente da argumentação que precede para que seja convincente;

- formar-se de uma ou mais sugestões, claras e ordenadamente expostas;

- ser precisas (não meramente aproximativa)

- ter carácter prático, sem o que, por mais brilhante que seja, não terá mínimo valor.

 

Características linguísticas

O texto de relatório, deve utilizar:

- Uma linguagem clara, concisa e rigorosa;

- Objectividade;

- Linguagem técnica (registo de língua de acordo com a natureza do relatório: corrente, cuidada; uso da 1a ou 2a pessoa. Deve-se no entanto manter-se o uso da pessoa com que se iniciou o texto, de modo que a coerência e a clareza não sejam afectadas).

- Uso de formas verbais como: notar, constatar, observar, confirmar, assegurar, sublinhar, etc.

- Emprego de frases curtas

- Uso de conectores adequados à intenção comunicativa do texto em questão.

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