Visita ao Monte “Cabeça do Velho” – Relatório
Foi na hora 08:00 da manhã que partimos do quartel rumo a famosa e misteriosa montanha “Cabeça do Velho”.
Falando um pouco deste monte, a
“Cabeça de Velho”, como o nome verdadeiro (Monte Bengo) uma rocha considerada
misteriosa por se parecer com a cabeça humana, de um idoso careca, barbudo,
deitado de costas e a chorar. “Ndhunu rinoera” é uma expressão em língua local
que significa “sagrado natural”. É esta atribuição categórica que a Cabeça do Velho
recebe na cidade de Chimoio por ser lá onde são invocados os espíritos dos
antepassados para se comunicarem com os deuses, pois numa pequena mata
existente na montanha fica localizado um cemitério onde estão sepultados alguns
líderes tradicionais de “Mandiquice”.
São os espíritos destas figuras que
servem de intermediários entre a comunidade viva e os “deuses”, comunicando
sobre as preocupações da população. De entre as preocupações mais frequentes
figuram a falta de chuvas, doenças e mortes excessivas.
O Nosso Trajecto Até a Cabeço do Velho
Para escalar a cabeça do velho
existem várias maneiras e caminhos. Pode partir-se da rua do Báruè no centro da
cidade ou se quiser, do edifício “Manuel Nunes”, seguindo a via que dá acesso
ao bairro Josina Machel, passa-se pela Escola Eduardo Mondlane em linha
contínua até a Escola Primária “Cabeça do velho” que se situa mesmo nas
imediações do monte. A partir desta escola, já é possível ter acesso a via que
dá ao monte.
A caminhada até a escola pode ser
feita de qualquer meio, carro, moto, bicicleta ou caminhada. Já a partir desta
escola ao cimo do monte só pode caminhar-se.
Da base do monte “suas bermas” para o
cimo ou topo fazemos a caminhada podendo durar mais ou menos 10 minutos.
Antes da escalar ao monte, todo e
qualquer um é submetido a um ritual ou pequena cerimónia tradicional dirigida
pelas autoridades tradicionais locais. E objectivo deste ritual é de comunicar
aos espíritos dos antepassados, que alegadamente existem por lá, sobre a visita
que vão receber e assim, para que nada de mal aconteça durante a visita.
Ao longo da caminhada, o visitante que
for ao monte também se inteira da vida dos citadinos de Chimoio, povo que todos
os dias está empenhado nas suas actividades comerciais de grande e pequena
escala, sendo no mercado ou em sua casa. Este é, sem sombra de dúvidas, um povo
feliz e hospitaleiro.
As Nossas Actividades Durante a Visita
Dependendo do motivo da visita, uma
vez que esta pode, para além de ser turística, motivada por um estudo qualquer
sobre o local, o visitante tem várias opções de actividades.
Para nós, devido ao curto espaço de
tempo, não pudemos realizar muitas actividades, porém, conseguimos aprender
muita coisa cultural daquele lugar. Uma das coisas mais marcantes foi a oração
feito por diversos colegas no topo da montanha. Também aproveitamos a
oportunidade tirar fotografias, vídeos, diversão e aprender acima de tudo.
Para o turista, uma das principais
actividades que pode desenvolver no local é a fotografia. A cabeça do velho
oferece uma vista de uma linda paisagem que desperta a qualquer um, mesmo
aquele que não tem gosto ou talento na fotografia, a tirar uma foto para
recordação.
O Que Pudemos Aprender Durante a Visita
Durante a nossa visita, pudemos
aprender que a cabeça do velho é uma zona largamente famosa pelos seus mitos e
tabus. Informações em nosso poder indicam que do monte verificava-se, nas
manhãs, cabritos, leopardos de cor branca, lagartos maiores, roupas estendidas
na montanha, instrumentos como Phacabulhas, bengalas e outros.
Um dos animais evidenciados mitos é onde
um bode que circulava pela cidade de Chimoio, no período antes da sua expansão.
Fala-se que este animal quando chegasse num curral e caso encontrasse outros
animais domésticos, arrastava-os consigo até ao monte. Igualmente ouvia-se o
soar de batuques no monte sem que alguém esteja lá. Diz-se também que devido a
estes mistérios, as autoridades coloniais nunca chegaram a escalar o cimo do
monte. Supõe-se que estes mistérios têm ligação com os espíritos dos líderes
tradicionais sepultados no local.
Nunca foi permitido capturar ou tocar
tanto os animais, assim como os outros instrumentos que apareciam e
desapareciam, sob o risco de ficar com espíritos malignos “njuzo” para o resto
da vida. Também é proibido escalar o monte sem a devida autorização das
autoridades locais e antecipado ritual tradicional. Estes passos obrigatórios a
seguir, sempre determinaram o sucesso da actividade a realizar no monte, caso
contrário, há sempre algo de mal que acontecia podendo ser um encontro com
animais estranhos.
Depois de escalar o cimo do monte, é
proibida a prática de actividades indecentes como beijar, namorar, manter
relações sexuais, urinar, defecar, assim como deixar por lá instrumentos
estranhos, que alguém tenha levado fora do monte, pois podem acontecer
mistérios.
Os mistérios também acontecem na
positiva para comunicar algo ou por felicidade dos espíritos quando estes são
bem tratados pelos visitantes. Um dos mistérios acontecidos na positiva e que
os citadinos recordam sempre, foi a quando da passagem da chama da unidade
nacional pela cidade de Chimoio em 2005. Apareceu um cabrito estranho com um
pano vermelho enrolado na região do pescoço no momento em que o antigo
Presidente do Conselho Municipal de Chimoio Alberto Sarande entregava a tocha
ao Administrador de Gondola, na altura, Eduardo Gimo. O cabrito, que se supõe
seja da mesma geração dos cabritos que ocorrem na cabeça do velho,
posicionou-se entre os dois dirigentes. Por conta disso, as autoridades
governamentais organizaram, de seguida, uma cerimónia tradicional no sopé do
monte em que a principal mensagem foi pedido de chuva e, de seguida, realmente,
por coincidência ou não, choveu.
Em Casos de Hospedagem
Embora o nosso grupo não pretendesse
hospedar-se local, pois a maior parte de nós somos residentes locais. Mas,
tratando-se turistas, é importante referir que em termos práticos, a cabeça do
velho não oferece qualquer tipo de alojamento, embora no local, as populações
locais, quando estão em seus habituais rituais religiosos chegam a pernoitar
por lá.
Portanto, o turista que pretender
escalar a cabeça do velho só poderá alojar-se na cidade de Chimoio onde as
opções de alojamento são, um tanto o quanto, muitas, embora haja necessidade de
se investir mais na acomodação, tanto em número, assim como em qualidade.
Constatações Finais
Foi precisamente as 12 horas e 30
minutos que regressávamos no quartel, tendo sido uma visita muito exaustiva,
mas sobretudo educativa. É de se referir que foi uma de extrema importante
importância no que diz respeito a conhecer e valorizar os nossos valores
culturais e tradicionais. E como já referido, o monete Cabeça do Velho, é
realmente um centro turístico de grande importância para a nossa província isso
devido a sua beleza e seus mistérios.